sexta-feira, março 29 2024

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Quando o retorno de 24 Horas foi anunciado pela Fox  depois de quatro anos fora do ar e muitos boatos sobre a produção de um filme que no fim das contas não saiu do papel, você, eu e mais um monte de gente se surpreendeu. Afinal, ainda que ninguém esperasse pela reinvenção da roda a partir dali, criou-se (apesar das muitas tropeçadas que a série deu em suas últimas temporadas) uma expectativa evidente, já que a ideia de voltar a ver Jack Bauer em ação era interessante e curiosa por si só.

Contudo, uma dúvida razoável também surgiu depois que a poeira da empolgação baixou: será que 24 Horas e seu protagonista ainda tinham lenha pra queimar, ou veríamos simplesmente um triste ato final de um outrora craque que já não teria mais a habilidade e a agilidade de antes para nos impressionar no campo? A resposta, considerando esses dois primeiros episódios (de um total de doze da minissérie Viva um Novo Dia) é contudente e animadora: sim, Jack Bauer ainda tem fôlego e aparentemente disposição de sobra para provar que continua capaz de segurar uma trama onde o carro chefe é a ação ininterrupta e o clima de urgência é constante.

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Ao abraçar o formato de minissérie, 24 Horas: Viva um Novo Dia deixa claro, logo de cara, que todos os elementos caracterísiticos e presentes em cada uma das temporadas anteriores (intriga, conspiração, suspeitas mil, traições, reviravoltas etc) estão ali. No entanto, a necessidade de comprimir a cadeia de eventos dentro de doze episódios, já revela, nas duas primeiras horas da ação, uma dinâmica muito mais equilibrada e objetiva, visto que não há tempo para investir em subtramas tolas (como aquela de Kim caindo numa armadilha que a deixara ameaçada por um puma no segundo ano da série, por exemplo) e que pouco agregam à trama principal.

Nesse contexto, o roteiro perde pouco tempo tentando explicar, por exemplo, exatamente o que Bauer fez para permanecer fora do radar do Governo durante quatro anos, preocupando-se mais em usar as marcas de expressão, agora mais evidentes no rosto de Kiefer Sutherland, e as muitas cicatrizes no corpo de Bauer, para conferir a ideia de um homem que traz o peso das escolhas que fizera no passado e que, resignado por ser tratado como um criminoso internacional, não se abstém de sair das sombras para agir quando uma nova ameaça surge durante a visita do agora presidente James Heller (que era o secretário de Defesa na quarta temporada) a Londres.

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A ida do presidente americano à capital britânica, aliás, abre espaço para mostrar uma aparente preocupação maior dos produtores/roteiristas em contextualizar o cenário político atual aproximando-se dele, mesmo que levemente na ficção. Assim, numa época em que  se discute cada vez mais o papel do uso de drones em conflitos armados, 24 Horas usa o conceito como ferramenta tanto para contextualizar um certo tom de oposição estrangeira ao governo americano (visto que mesmo um aliado histórico como a Inglaterra, parece ter questionamentos) quanto para criar as bases do evento que dá início à conspiração da vez que envolve um sistema de controle militar de drones sendo hackeado e usado de forma criminosa.

E se falei em uma tentativa da série de se aproximar da realidade, a demonização do governo ganha forma também através do reaparecimento de Chloe O’Brien, que transformada numa mistura de Lisbeth Salander (no visual) com Edward Snowden (no comportamento), enxerga o poder político tradicional como o grande vilão responsável por todos os males e agora trabalha com Adrian Cross, um tipo que poderia ser facilmente comparado ao Julian Assange numa organização que vaza informações confidenciais como se fosse uma Wikileaks atuando em prol da liberdade irrestrita de informações.

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Isso tudo, porém, de nada adiantaria se o Jack Bauer que reencontramos agora não nos convencesse de que ainda é aquele mesmo sujeito que não tem medo de ultrapassar limites e que consegue sair das situações mais complicadas mesmo quando a perspectiva lhe parece altamente desfavorável. Nesse contexto, o veterano diretor e produtor da série, Jon Cassar, sai-se bem uma vez mais ao (1) valorizar o tom de mistério e ameaça que cerca o reaparecimento do agente (que, além de surgir cercado por sombras, não fala uma palavra sequer por boa parte do primeiro episódio) e (2) ao mostrar que Bauer, quando no meio da ação, segue sendo o grande bad ass capaz tanto de se livrar de um oponente armado aplicando uma chave de pescoço mesmo estando algemado(!) quanto de seguir em frente como se nada tivesse acontecido mesmo depois de ser baleado no braço.

Aposentadoria é para os fracos, Jack. Seja muito bem vindo de volta à ação.

5star

Outras observações:

– Curioso o momento em que o personagem de Tate Donavan, Mark Boudreau, revisa a ficha de Bauer, já que na tela dá para ver que o ex-agente da CTU tem nada menos que uns 50 e tantos assassinatos oficialmente ligados ao seu nome.

– Por falar no  Mark (Donavan), considerando o histórico da série de ter sempre um traíra num posto importante dentro da trama, já é no mínimo suspeita a pronta iniciativa dele de querer se livrar de Jack Bauer assim que descobre seu ressurgimento, não? Não quero crer que sua atitude se deva tão somente a ciúmes de Andrey Raines com quem é casado.

– Ainda que eu duvide que ele vá ter grande destaque na trama, gratíssima surpresa ver o veterano Stephen Fry no papel do primeiro ministro inglês.

– Steve Navarro (Benjamin Bratt) pode ser o chefe da unidade avançada da CIA em Londres, mas os dois primeiros episódios mostram que é a personagem da loira Yvonne Strahovski, a agente Kate Morgan (o sobrenome só pode ser uma referência do produtor Manny Coto ao papel da atriz na última temporada de Dexter, né?), que deve assumir o papel de escudeiro informal de Bauer como já ocorrera em temporadas anteriores.

– A aparição foi pequena, mas acho que vale ficar de olho no tal Chris Tanner, o piloto de drone que vira bode expiatório depois do ataque ao comboio militar no Afeganistão. Afinal, seu intérprete, John Boyega (do divertido filme Attack the Block), acabou de ser confirmado no próximo filme da saga Star Wars a ser dirigido por J.J. Abrams.

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