[com spoilers dos episódios 1×01, 1×02 e 1×03] Extant, a nova série da CBS estralada por Halle Berry e com produção de Steven Spielberg, é uma daquelas ficções científicas que têm um mistério no centro da sua trama – no caso, o mistério é saber exatamente onde foram parar o dinheiro e o talento investidos. Porque apesar de se destacar em alguns aspectos óbvios (design de produção, efeitos especiais, bugigangas tecnológicas que existirão daqui a alguns anos),Extant se apresenta com a rigidez e a formalidade de um almoço com os sogros, deixando passar as possibilidades pertinentes à trama e se tornando algo completamente estéril.
Ao longo dos três primeiros episódios, o que se vê são elementos tradicionais dos thrillers dando as caras: a criança que age de forma misteriosa, a protagonista que decide não contar nada a ninguém, a grande corporação com objetivos obscuros, as personagens que conversam de forma vaga em salas fechadas para não entregar o mistério… é tudo atirado na trama sem grandes novidades e, principalmente, sem desenvolvimento. Sabemos que Molly não quer contar nada a John, mas não sabemos exatamente o por quê; quando notícias bombásticas como a gravidez ou o fato de que alguém na verdade está vivo são compartilhadas, o tempo dedicado à reação das personagens é do tamanho de um tweet, sem espaço para vermos as consequências disso nas personagens e, consequentemente, nos aproximarmos delas. É como se Extant tivesse mapeado os pontos necessários da história mas não se importasse em como chegar até eles.
Além disso, é uma série que se preocupa muito mais em contar as coisas do que em mostrar as coisas, abordagem típica de quem não leva fé na força das imagens e metralha diálogos expositivos para tudo que é lado. Como o envolvimento do espectador depende dele testemunhar o que está acontecendo (sentimentos e opiniões inclusos), e não apenas ser informado do que está acontecendo, já que uma produção audiosvisual não é uma simpes fofoca, Extant enfia o pé na lama nesse aspecto. A coisa é tão verborrágica que duas vezes outras personagens tiveram a função de explicar como a protagonista se sentia (“você tem lidado com isso sozinha desde que voltou?“, “eu sei que foi difícil para você após perder o Marcus e o bebê no acidente“) e, em determinado momento no terceiro episódio, a série faz um flashback rápido de algo que havia sido bem estabelecido vinte minutos antes, provando que foi originalmente desenvolvida para um público com DDA.
Todos esses tropeços ainda abraçam uma mise-en-scène problemática ao extremo, já que as cenas e as interações estão a anos-luz de qualquer coisa que possa ser considerada “natural”. Parece que há uma rigidez muito grande na composição, e o resultado é que mesmo gestos simples como botar a mão nas costas de alguém soam forçados, mais como resultado de uma marcação de cena e menos como resultado dos eventos acontecendo em quadro. A sensação geral é a de assistir a uma reunião de negócios, e eu não ficaria surpreso se, em uma reviravolta, descobríssemos que quase todos ali são robôs como Ethan – até porque as atuações deixam bastante a desejar, desde Halle Berry se resumindo a imitar Chandler naquele episódio em que ele não consegue sorrir até Goran Visnjic passando o tempo todo com uma expressão compreensiva, mesmo quando não está sendo compreensivo. Ao menos Brad Beyer e Camrym Manheim conseguem agregar um pouco de carisma e dramaticidade aos seus papéis.
Apesar disso, Extant consegue ter alguns bons momentos de lucidez: algumas sequências são tensas o suficiente para fazer você dormir de luz acesa (Haylor na Seraphim), uma que outra vez as coisas são ditas de forma sutil e eficiente (quando Molly tenta ajudar Ethan no jogo, tudo vai abaixo; quando ele joga com o pai, o resultado é maravilhoso) e há um mistério realmente intrigante orbitando a história. Pena que quase sejam obliterados pela insistência da série em ser completamente desinteressante. Ainda assim, se Extant decidir investir mais nesses elementos e os realizadores entenderem que uma história bem contada exige que as personagens sejam um pouco mais do que bonecos recitando diálogos, pode ser que o futuro reserve algumas surpresas. Caso contrário, nem o nome de Spielberg no cartaz vai conseguir fazer muita diferença.
o final da temporada foi MUITO bom.
A série tem potencial e me agradou muito do meio até o fim da primeira temporada!! Aguardando a segunda temporada!! Me surpreendam Please!!
Esperar até o meio de uma temporada pra ver a série mudar de fraca para boa é demais. Pra mim a série tem que ser boa desde o início.