quinta-feira, abril 18 2024

Eu gosto muito de Sense8, série que em sua primeira temporada trouxe uma história original e interessantíssima, carregada com uma positiva mensagem de aceitação. Seu segundo ano, contudo, deixou à desejar devido a uma trama que se tornou mais confusa e arrastada do que deveria e que culminou no cancelamento antecipado da série, sem a conclusão de sua história. De lá pra cá, os fãs espontaneamente salvaram a série e a Netflix renovou a atração, que ganhou um episódio especial para encerrar a trama interrompida.

O intitulado “episódio final” de Sense8 retoma a narrativa de onde foi “interrompida”. Logo de cara, vemos que claramente a série realmente não tinha história para seguir por mais uma temporada inteira e muito provavelmente esse foi o impasse que travou a continuidade da atração, já que é notório que Lana Wachowski (Matrix) queria mais capítulos. Isso fica claro nos primeiros minutos do finale, que gasta um excessivo tempo para “recapitular” a trama e reorganizar as ideias para entregar aos fãs o final.

Sejamos objetivos: este último episódio da série é um imenso e merecido fan service e sua showrunner reconhece isso. A trama é simples e direta, também, embora expositiva demais em alguns momentos. O cluster mais amado do mundo precisa resgatar Wolfgang e deter a agenda discriminatória da BPO, organização de pesquisa biológica que, sob a gestão de Milton “Sussurros”, decidiu iniciar uma caças às bruxas à espécie sensitiva, vista como uma ameaça ao homo sapiens.

Tecnicamente eficiente como o restante da serie, mas claramente num orçamento “menor”, o episódio se beneficia pelo fato dos sensates estão todos juntos, o que permite que a trama acelere sem parecer apressada. Assim, há tempo suficiente para que a narrativa se desenvolva de forma orgânica até sua apoteótica conclusão, que ainda assim é repleta de cenários grandiosos, fotografados sob a lente magistral de Lana Wachowski.

Sem spoilers, posso dizer que esse episódio tem tudo que os fãs da série mais esperariam que acontecesse (com direito a algumas surpresas inusitadas, claro), com boa dose de humor, romance, cenas de ação eficientes e empolgantes, tudo carregado com altas doses de serviço aos fãs que literalmente salvaram a série. Lana Wachowski reconhece o carinho de seu público e inclui diálogos e situações que numa lotada sessão na première mundial em São Paulo fez o publico rir, gritar e se emocionar.

Com uma mensagem forte e direta sobre a necessidade de aceitarmos o diferente em um mundo cada vez mais polarizado e intolerante, Sense8 foi uma série com altos e baixos, mas que inevitavelmente cravou sua marca no entretenimento, quebrando barreiras gênero-normativas em prol de um discurso que não busca nada mais que a inclusão e o respeito. É obviamente um passion project de sua cocriadora Lana Wachowski, em seu primeiro trabalho como uma mulher transgênero, mas que conversou com um público enorme e que raramente se vê tão bem representado em uma tela.

Isso, por si só, já é um feito notável.


Ao longo dos anos, o Ligado em Série teve a oportunidade e a honra de conversar com este elenco maravilhoso de Sense8. Abaixo, você recapitula as entrevistas exclusivas que fiz com Naveen Andrews, Miguel Ángel Silvestre, Brian J. Smith, Tina Desai e Jamie Clayton:

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