sexta-feira, abril 12 2024

Criado pelo romancista e historiador Tom Clancy, Jack Ryan é um heroi de guerra norte-americano visto em inúmeras adaptações para o cinema, sendo Caçada ao Outubro Vermelho a mais lembrada. Clancy é o percursor do chamado “techno-thriller”, gênero literário que mistura guerra, espionagem e suspense com certo realismo social. Nesta nova iteração do personagem, encontramos Ryan (agora vivido por John Krasisnki, The OfficeUm Lugar Silencioso) como um analista financeiro que presta serviços para a CIA e descobre, através de transações suspeitas, uma possível e iminente ameaça terrorista.

Na série do Amazon Prime Video que estreou no último dia 31 o personagem está muito mais antenado com o que acontece no mundo pós-11 de setembro e muito mais sensibilizado. Ele não é e nem quer ser o “novo” Jack Bauer. Uma das principais características deste drama escrito e dirigido, entre outros, por Carlton Cuse (LOST, Bates Motel) é a capacidade de fazer uma leitura menos maniqueísta e mais complexa dos acontecimentos que permeiam a concisa trama de intriga multinacional.

A série curiosamente começa sob a perspectiva de dois jovens irmãos que são vítimas colaterais de um ataque aéreo americano no Iêmen décadas antes e que molda a sede de vingança do mais velho, Suleiman (Ali Sulliman, de The Looming Tower), contra a “ameaça” que vem do oeste representada pelo belicismo desenfreado dos EUA. Sem querer justificar os atos do terrorista, a série pelo menos apresenta contornos que explicam as motivações do algoz, algo que outras produções do gênero como a própria 24 Horas e Homeland, por exemplo, por várias vezes não o faz.

Krasinski, o eterno Jim de The Office, assume aqui uma persona acuada e machucada pelos terrores da guerra que participou e aparece resignado à posição de um “analista que trabalha em escritório”. Sob o comando da nova autoridade do seu departamento, James Greer (o ótimo Wendell Pierce, de Treme), ele acaba sendo “puxado” de volta para o mundo da espionagem internacional, pois é o único capaz de “seguir o dinheiro” com competência e precisão para tentar impedir ataques a inocentes.

Ainda que apresente clichês do gênero e retrate os norte-americanos como a inevitável “polícia” do mundo, Jack Ryan o faz ciente dos seus atos (e das consequências deles) e carregando consigo críticas e comentários sutis que evidenciam pelo menos o cuidado de seus realizadores em criar uma história que seja ao mesmo tempo ágil, mas coerente (algo notável, considerando que o intérprete de Ryan é um republicano ferrenho). Outro aspecto positivo são as locações reais gravadas ao redor do mundo (incluindo no interior da França e Marrocos), que conferem um tom de verossimilhança e até mesmo de urgência, pois sabemos diferenciar as paisagens e ambientes mostrados de meros backlots em Los Angeles e região.

Mas o grande mote de Jack Ryan é a sua trama simples (mas não simplória), econômica e que não perde tempo com diálogos, cenas e personagens secundários desnecessários. Ela vai direto ao ponto mostrando os embates entre os “lados” desta história, repletos de sequências bastante eficientes de ação (que nunca aparentam megalomaníacas, apesar da produção do explosivo Michael Bay) e que sempre impulsionam a trama adiante.

Até mesmo o interesse amoroso de Ryan, vivido pela Dra. Cathie Mueller (Abbie Kornish, Klondike) possui um propósito na história em vez de ser relegada à posição de escape. Trazendo um desfecho satisfatório para o ano um e deixando abertos vários caminhos para serem percorridos na já confirmada segunda temporada, Jack Ryan é um grande acerto do Amazon Prime Video, capaz de introduzir e desenvolver um heroi que está muito alinhado com as várias ramificações do novo cenário político mundial (da crescente onda de conservadorismo às crises migratórias).


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