quinta-feira, abril 25 2024

[contém spoilers] Demorei para escrever sobre o final da 2ª temporada de Westworld por diversos problemas que me deram, porém, a oportunidade de rever alguns episódios chave após o derradeiro capítulo The Passenger que interrompe a história contada pelo casa Jonathan Nolan e Lisa Joy até 2020 pelo menos. Antes, eles entregaram uma temporada que só não foi impecável por conta de alguns fillers e pela necessidade patente de manter grande parte dos diálogos “cifrada” para não entregar as revelações de sua trama não-linear.

O formato de Westworld é, por isso, seu maior trunfo e sua maior fraqueza. Se por um lado Nolan e Joy montam um intrincado quebra-cabeças narrativo cujas peças mais importantes somente são colocadas ao fim, por outro exigem que seu público faça uma série de concessões para mergulhar a fundo nessa brincadeira e entender que a série só vai mostrar o que quer na hora que quer e não adianta ficar tentando descobrir teorias e reviravoltas.

Foi por isso que larguei sub-reddits, fóruns e discussões sobre a série, já que estamos falando de um universo onde tudo que está sendo visto é meticulosamente controlado de várias formas em termos de tempo e espaço e que cada personagem em tela pode estar vivo, morto, ser anfitrião, real ou virtual etc. Assim, deixar a trama me surpreender e me guiar foi libertador, pois da última vez que vi uma série como esta (LOST), passava o tempo todo debulhando teorias apenas para me frustrar logo à frente.

Dito isso, Westworld seguiu muito bem até o 5º capítulo, onde fez uma parada nada estratégica e totalmente desnecessária em Akane No Mai, o episódio oriental. Revendo o capítulo após ter conferido toda a temporada, vejo que o único grande acontecimento relevante para a história (Maeve descobrindo o poder sobre outros anfitriões) poderia muito bem ter sido contado de outra forma. Sim, foi lindo viajar ao Japão medieval, mas não a troco de 50 preciosos minutos. Essa “encheção de linguiça” mostra que a temporada poderia muito bem ter tido apenas 8 episódios, já que o sexto capítulo também foi quase todo desnecessário.

Não obstante, acredito que o saldo deste 2º ano foi positivo, isso porque demonstrou o domínio que o casal Joy tem sobre sua criação e desde os flashforwards do primeiro episódio a grande reviravolta (Dolores/Charlotte) já estava ali plantada. E se o primeiro ano foi narrado pelos olhos de Dolores, aqui foi Bernard que tomou conta da história e protagonizou a maior parte da temporada com a conveniente “confusão mental” de um anfitrião com problemas técnicos (ainda que propositalmente causados por ele mesmo, como viemos a descobrir ao fim).

Curiosa, portanto, esta troca de “perspectiva” na série. Se na primeira temporada víamos parte do mundo de Westworld por Dolores – que estava despertando e com problemas por seus devaneios), aqui é Bernard que faz a vez do olhar do espectador. Assim, Nolan e Joy elegantemente justificam (ou pelo menos minimizam) o problema que falei acima sobre a estrutura da série: nós, os espectadores, somos como anfitriões danificados testemunhando tais eventos. Como Dolores “despertou” ao final do primeiro ano, precisavam de outra pessoa para ser nossos olhos daquele momento em diante.

Repleta de atuações inspiradas de Evan Rachel Wood, Jeffrey Wright, Thandie Newton, Ed Harris e, claro, Anthony Fucking Hopkins, Westworld trouxe também neste ano uma das horas mais lindas da TV, no episódio Kiksuya protagonizado pelo brilhante Zahn McClarnon, que foi um imenso flashback sobre como a Nação Fantasma já estava acordada muito antes dos demais anfitriões e como, esta sim, seria instrumental para os eventos do final de temporada.

Ah, e que final. Foi depois que todas as cartas foram colocadas na mesa no intenso episódio Vanishing Point (o nove), que Westworld pôde arregaçar as mangas pra e nos dar quase duas horas de revelações, ação de primeira qualidade (a cena com os búfalos foi magistral) e, é claro, as reviravoltas imprevisíveis na trama. Muitos questionaram desde o final sobre como a série prosseguirá daí pra frente, mas todo o arco final envolvendo William/Homem de Preto traz consigo não apenas a resposta, como amplia de forma genial os caminhos da série focado no questionamento: o que é real?

Westworld é um drama arrojado, que possui necessárias falhas narrativas para poder funcionar como esperado, tal qual os devaneios que Ford precisava instalar em seus anfitriões para lhes conferir verossimilhança. Não existe série perfeita, mas em praticamente todos os quesitos e méritos – artísticos e técnicos – esta é uma das produções mais promissoras que temos na TV hoje.

Uma excelente temporada, de toda forma.

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