quinta-feira, março 28 2024

Por Bruno Carvalho

[com spoilers dos episódios 5×01 e 02] O repetitivo som de teclas de máquinas de escrever e o toque incasável dos telefones compõe a melodia de fundo enquanto a fumaça dos então populares cigarros sobe no ar. É, estamos de volta a década de 60 na nova fase da Sterling, Cooper, Draper, Pryce. As coisas mudaram, a agência respira modernidade. O tão descolado Roger virou um dinossauro que passa o dia fazendo piadinhas com as secretárias, enquanto espia a agenda do agora ocupado Pete para entrar de penetra nas várias reuniões de negócios que ele fecha. Já Don continua incorrigível, agora recém-casado com a europeia e descolada secretária Megan. Mad Men retornou com um episódio duplo e repleto daquilo que a série sabe fazer de melhor. Na agência, acompanhamos os sempre interessantes pitchings a clientes e a constante disputa de egos (e de espaço físico) dos cinco maiores sócios. Fora dela, a nova dinâmica familiar de Don e as dificuldades enfrentadas por Joan com o filho que decidiu ter ganharam destaque. E mesmo que não seja repleto de grandes acontecimentos, o drama segue como um estudo profundo de personagens que, direta ou indiretamente, são influenciados pelas rápidas e drásticas mudanças na sociedade daquela época.

A mais notória delas é a força que os movimentos em prol dos direitos civis para mulheres e negros no início da segunda metade da década de 60, onde a história está agora estabelecida. Até então não era apenas comum, mas aceitável hostilizar e discriminar aqueles que buscavam nada mais que a igualdade de direitos, como no caso de Lane ao preferir ficar com uma carteira esquecida no táxi em vez de entregá-la para o motorista negro devolver ao dono – comportamento que embora já fosse reprovável naquela época, ainda era largamente praticado (aliás, até hoje, quase 50 anos depois). A submissão das mulheres também começava a ficar cada vez mais distante. Veja Megan, por exemplo, com sua espontaneidade e independência ao organizar a surpresa para Don (hilariamente estragada por Roger), a despeito do que ele – o homem da relação – queria ou não. E justo Don, que por décadas se escondeu atrás de uma fachada e um pseudônimo, teve sua vida exposta a meros  “conhecidos” quando sua esposa resolveu presenteá-lo com o Zou Bisou Bisou, de Gillian Hills, e sem direito de achar ruim.

Mas se tem alguém que roubou a estreia desta 5ª temporada de Mad Men foi mesmo John Slattery, que construiu um Roger Sterling ainda mais subversivo, inconsequente e hilário, com a exata dose de resignação pelos duros golpes que recentemente levou nos negócios, evidente no momento em que ele acorda de madrugada para pegar o ferry de Staten Island na tentativa de invadir a falsa reunião que Peter marcou na Coca-Cola. Foram duas horas impecáveis que mostraram que os sinais dos novos tempos estão aí, e parece que esta vai ser uma grande temporada!

 

Outros destaques:

– Roger Sterling para sua esposa: “Por que você não canta como ela?” – referindo-se a Megan e a resposta: “Por que você não se parece como ele?” – apontando para Don.

– Foi comovente a reação de Joan na sala de Pryce ao saber que não apenas é relevante, como sua falta foi sentida pela agência. Será que a série fará um paralelo da vida de Joan com o bebê para aquela que Peggy abdicou ao entregar seu filho com Pete para a mãe? Aliás, notaram o desespero de Pete quando viu Peggy com o bebê de Joan? Passou da hora de isso voltar a tona também.

– O canal AMC disponibilizou o single Zou Bisou Bisou, gravado pela própria intérprete de Megan Jessica Paré, no iTunes!

– O que foi feito de Betty, que sequer deu as caras nestes episódios?

8 comments

  1. Bruno

    Desculpe corrigir você, mas a nova esposa de Maggie é Canadense de quebec. Na tempodada em que houve a cena do batom, ela disse qual era o segredo dela, e que a mãe dela era Francesa.

    Abs

  2. Há uma grande influência europeia no comportamento dela, independente de sua origem =)

  3. ótima Review!Para o também ótimo retorno da melhor série em atividade!

    Todas as cenas foram boas e relevantes,e ainda sim,faltou a Betty!Mas eu não senti tanto falta dela,consegui ver os filhos do Don,que são bem mais legais que ela.

  4. Ótima review!
    Aliás, nunca ri tanto em um episódio de Mad Men xD

    Se eu não me engano, Betty não apareceu porque a atriz estava grávida. (Não tenho certeza dessa informação…)

  5. Tô me apressando pra terminar a 4ª temporada e então começar essa! =D
    Ancioso!!!

  6. Muito boa a review. Quanto a origem da esposa do Draper, eu não lembrava disso ter sido dito nas temporadas passadas (faz tanto tempo!), mas eu soube através desse próprio episódio. Eles fazem uma referência a isso quando os colegas de trabalho comentam sobre ela.

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