Dexter encontra Dexter
Dexter é um animal acuado. Quando ferido, mantém determinada distância da presa. Quando finalmente consegue idealizar o ato é sintetizado e enjaulado antes que avance. Ele preza pelo seu distanciamento das pessoas e dos objetos, e procura exatamente neste âmbito comum de direções um lugar para firmar os pés e demarcar territórios, emitindo assim suas peculiaridades e se diferenciando do meio em que vive. Mas ele não precisa mais das suas máscaras, que já se solidificaram. O antigo Dexter seguia códigos e viu nesses códigos, muitas vezes, a moralidade que lhe faltava. Desta forma a divindade de um pastor revelou a sua santidade que destoava dos arranques de ódio justificados pela purificação dos seus crimes. Máscaras que escondiam sua verdadeira personalidade. Pela última vez, descobrimos que Dexter é um camaleão que necessita de todas as cores, extraindo de todos ao redor, para compor sua aparência. Saxon é a dimensão da sua habilidade. Ele conseguiu se esconder durante anos e ocupou um lugar perto dele com facilidade. Isso coloca o nosso personagem em torno de uma desconfortável verdade: seu passageiro sombrio é cego.
Em determinada cena eles se encontram; um vestindo uma camisa branca enquanto o outro, uma preta. Eles cruzam olhares, tecem ameaças. O ultimato é lançado: siga em diante e não olhe para trás. E como no Velho Oeste, eles olham. Remete-nos automaticamente ao embate de cores e, consequentemente, da textura do combate. O que o choque dos dois não considera é que o impacto ressoa aos demais. Debra surpreende novamente em um envolvente jogo que destrói a personagem e constrói um artifício para manter um interesse do público até o último segundo da série.
Criando um paralelo interessantíssimo com outra série que está acabando, temos Walter White. Se por um lado temos um pai de família que se torna um monstro, Dexter tenta o mesmo viés com uma diversidade absurda de empecilhos. Dexter é sobre um monstro que se torna pai de família. Ou melhor, Dexter conta a estória de um psicopata que descobre o amor gradualmente enquanto se torna o maior assassino de Miami. E para mostrar que não estamos longe da epidemia de final de série, LOST é uma série sobre redenção.
Faltando apenas um episódio para o final, Dexter despenca em uma avalanche de coincidências que mira o final como facilitador. Uma bola de neve que põe seus personagens com pinos em uma partida de Boliche, paixão do personagem-título. Da despedida constrangedora ao diálogo entre Joey e Dexter, a série prepara terreno para um desfecho insosso. Masuka e o seu dilema diante da criação de uma filha nos dias atuais soa tão interessante quando o resto das pequenas histórias que são jogadas enquanto os roteiristas sorridentes gritam: não ligue pra bagunça.
por Adson Santos, colaborador do Ligado em Série.