domingo, abril 21 2024

Apesar de deslizes inexplicáveis, série apresenta leve melhora

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Em um determinado momento de Still Positive, sexto episódio da terceira temporada de Homeland, alguém olha dramaticamente para o chão e fala “é só o começo”. E a sensação é exatamente esta: que os cinco episódios anteriores foram só historinha pra espectador dormir e que a balbúrdia começa agora. Afinal, os arcos narrativos foram praticamente zerados – Carrie e Saul são BFFs de novo, há um novo processo investigativo, uma nova fonte, Dana saiu de casa, Carrie está grávida (!) e por aí vai. A boa notícia é que Still Positive melhorou muito o nível e construiu momentos realmente bons. A má notícia é que coisas como Carrie grávida ainda denunciam a total falta de sanidade por parte dos realizadores.

Mas vamos por partes, como diria um filme sendo transmitido na TV aberta. O sexto episódio marca um momento em que a palavra “inteligência” da sigla CIA não possui um significado acidentalmente irônico: atentos às mudanças de cenário, Carrie e, principalmente, Saul conseguem se organizar para buscarem seus objetivos. Assim, o único barbudo não-muçulmano da série torna-se novamente uma figura central realmente crível, com bons diálogos (“isso não foi muito francês da parte dele”) e cuja caça a Javadi é desenvolvida de forma que dois sujeitos inteligentes tenham que superar um ao outro (Saul pegou Javadi de surpresa com a Carrie; Javadi reverteu conseguindo adiar a reunião; Saul ganhou vantagem com o drone seguindo o inimigo; Javadi ainda assim foi capaz de mostrar que é mais birrento e desestabilizar o adversário). A calma e o cuidado com que a disputa é construída, trazendo situações com desfechos controlados, mas imprevisíveis (como o momento onde Carrie tenta se impor sobre Savadi e o sujeito tira de letra), despeja um balde de tensão na trama – que cresce exponencialmente até a barbárie ao final.

Aliás, o que torna Javadi um adversário tão intenso e assustador é justamente sua semelhança com Saul: ele também é calmo, educado, contido e inteligente, também faz parte de uma instituição com recursos para tocar o terror na galera. Mas ao contrário do Papai Noel cinzento da CIA, mostra uma brutalidade que, arrisco dizer, não havia sido mostrada na série até então. E isso volta a caracterizar os terroristas como pessoas implacáveis, vingativas, determinadas a descer o sarrafo nos americanos de qualquer forma e a qualquer momento, o que torna o papel de Carrie, Saul, Quinn e cia muito mais envolvente. E é emblemático que Savadi consiga desestabilizar o equilíbrio quase zen de Saul, criando uma pista-recompensa semi-eficiente e fazendo com que a diretora Lesli Glatter fotografe o americano em um contra-plongée que finalmente mostra a força e a raiva dele.

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Falei que a pista-recompensa era apenas semi-eficiente porque a cena que cria o primeiro gatilho, onde Mira e Saul discutem a respeito do amigo francês dela, é desconjuntantemente forçada, não se valendo de nenhuma antecipação dramática e acreditando que o espectador vai aceitar aquilo apenas “porque sim”. E é nesses momentos que Still Positive tropeça, cai de cara no chão e quebra todos os dentes. Dana mais uma vez tem um “conflito emocional” – que, por conveniência, só foi surgir quando o último conflito emocional fora resolvido – e mais uma vez sai de casa, novamente trazendo cenas que deviam ser colocadas em pílulas e anunciadas como a cura da insônia (embora a coisa toda dê esperanças de que a personagem jamais volte, o que seria uma avanço tremendo).

Claro que o pior sobra para Carrie: agora que a carta da loucura já foi usada, decidiram engravidar a moça para que um novo drama emocional surgisse de forma repentina. É uma reviravolta forçada, preguiçosa, cujo objetivo provavelmente é criar mais cenas dramáticas para dar outro Emmy a Claire Danes. Inclusive, não duvido que ela perca o bebê, ficando mal novamente e revisitando o hospício. Como os realizadores de Homeland gostam de encher linguiça quando o drama está em cena, só com esse draminha renderão umas quatro ou cinco temporadas da série.

2star

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