quarta-feira, abril 24 2024

Com uma tensão bem construida, série volta a apresentar um bom episódio

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Podemos dizer que este Good Night, décimo episódio desta terceira temporada de Homeland, é um bom representante da dualidade que a série vem carregando na bagagem: ao mesmo tempo em que apresenta momentos bem construídos, tensos, onde as situações e perigos se apresentam de forma orgânica na narrativa, apela para soluções apressadas e que denunciam uma tentativa de atingir o nirvana da preguiça. Ainda assim, na maior parte do tempo Good Night é envolvente e inteligente como poucos episódios dessa temporada foram.

Mas vamos pelo começo, como não diria um filme de Tarantino. O capítulo inicia estabelecendo bem tanto o momento onde a narrativa se encontra (mostrando onde as personagens-chave estão e tal), como o clima de perigo da balbúrdia – reparem como a sala da CIA é extremamente simples e rústica, e não aquelas salas que parecem o interior de um computador (como acontece em qualquer filme de ação), o que torna a situação mais realista. Além disso, não há grandes gritarias ou discursos épicos ali, apenas uma atmosfera inquieta que realça a insegurança do desfecho da operação (inclusive, em certo momento quando Carrie se exalta, Saul manda ela fechar o bico mesmo concordando com a objeção da moça). O silêncio atípico de uma turba de agentes da CIA e militares mostra de forma impactante que eles estão preocupados, e se o pessoal da CIA está preocupado, é bom o espectador ficar também.

E por falar em Saul, os roteiristas mais uma vez conseguem mostrar o barbudo como um sujeito inteligente, completamente comprometido com a missão – o momento onde pede o conselho de um general, por exemplo, só torna a sua capacidade de avaliar a situação ainda mais visível (afinal, haviam questões militares no faroeste que estava acontecendo no Irã), assim como a cena onde entrega a liderança ao mesmo general por entender que, a partir dali, ele poderia realizar um trabalho melhor (aliás, o simples fato de Saul mascar chiclete já é uma forma simples de mostrar como ele está inquieto e transmitir tensão ao espectador). Good Night ainda coloca na jogada as implicações políticas da missão (que são sempre levadas em consideração) e as dificuldades de bolar algo dessa magnitude.

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Dificuldade, claro, que ganha contornos muito maiores e mais dramáticos para quem está naquela charmosa fronteira do Irã. E o episódio se preocupa em mostrar a equipe conversando, interagindo, brincando, fazendo rituais, o que serve para aproximar o espectador do que, de outra forma, seriam apenas sujeitos com barba e metralhadoras. Puxando para tons de sépia, a fotografia ilustra a aridez da região que, seca e rochosa, se mostra tão convidativa quanto um acampamento em um vulcão ativo – e mais tarde, conforme a equipe vai avançando (de forma lenta, sem pressa, tropeçando em circunstâncias imprevisíveis no meio do caminho e lidando com elas), a fotografia do episódio utiliza as sombras, criando um clima claustrofóbico e tenso. Além disso, a hesitação quase desesperada de Brody em determinado momento faz com que a) ele se torne uma personagem ainda mais trágica por estar novamente em uma situação que pode lhe custar a vida ou a sanidade e b) fique bem claro que, seja lá o que espera o ex-fuzileiro no Irã, certamente não vai ser uma fatia de torta com uma xícara de chá.

É uma pena, portanto, que Good Night recorra a charlatonices para resolver determinadas situações, como a inexplicável insistência de Brody em seguir com a missão quando a casa caiu e todos querem recuar – sendo que pouco antes ele havia tentado até mesmo uma destrambelhada fuga (dá até para adivinhar que Brody gostaria de seguir para limpar seu nome e voltar aos EUA, mas então por que a hesitação de antes?) – ou o timing dos soldados iranianos, que aparecem deusexmachinamente quando tudo parece perdido. São resoluções que não fazem jus à construção que tiveram, soando forçadas. Ainda bem que a aparição de Javadi liga o modo “vitória” do episódio novamente, mostrando que, mesmo estando do lado dos mocinhos, ele continua implacável feito o imposto de renda. Um final que deixa grandes espectativas para o que vai acontecer na próxima semana e uma sensação que faltou nos últimos episódios de Homeland e que é muito bem-vinda.

4star

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