quinta-feira, março 28 2024

thesquare

Praça Tahir, Cairo, Janeiro de 2011. Movidos pela indignação e cansados de viver sob a opressão perpetrada pelos 30 anos de governo de Hosni Mubarak, milhares de egipícios tomam o importante ponto da capital e dão início ao movimento popular que ecoaria por mais de dois anos no país derrubando o ditador, bem como os militares e o presidente eleito que o sucedeu. Esse é The Square, ótimo documentário da Netflix recém indicado ao Oscar, que registra, sob os olhares de personagens que estiveram no centro dos protestos, momentos-chave de uma revolução que a mídia ocidental repercutiu de maneira rasteira, mas cuja verdade seus realizadores revelam de forma nua e crua como uma onda de choque capaz de despertar a identificação imediata de quem se revolta com a corrupção e os desmandos de governos mundo afora.

Centrado em personagens inicialmente motivados por puro idealismo como o jovem Ahmed Hassan, o ator Khalid Abdalla (o Amir do filme O Caçador de Pipas) e o muçulmano Magdy Ashour, The Square capta, de forma contundente, as ações, reações, depoimentos e conflitos destas e outras pessoas que participaram ativamente do movimento em suas várias etapas. Instigante na forma como expõe as armadilhas de uma revolução que reinvindica e consegue a queda de um regime/governo, mas que não se preocupa em apontar líderes para uma mudança efetiva, o documentário mostra como a derrubada de Mubarak (comemorada por todo o país) acabou servindo não apenas para a ascenção dos militares (que passam a atuar com mão ainda mais pesada contra a população), bem como de um presidente (Mohamed Morsi , eleito com 51% dos votos) que acaba se revelando ainda pior do que seu antecessor.

Com um quê de thriller, dada a natureza de urgência refletida pelos registros da diretora egípcia Jehane Noujaim, The Square, que já está disponível no catálogo brasileiro da Netflix,  é eficiente e essencial por conta de sua capacidade de apontar erros (como o da falta de propostas concretas) e acertos (como a criação de uma cultura de protesto) de um movimento popular que continua ativo e que deveria servir de exemplo para certos “gigantes” que ocasionalmente lotam ruas e avenidas sem nem saber pelo que gritam e que em função disso acabam virando massa de manobra para alimentar interesses escusos de certos grupos sociais, políticos e de mídia.

5star

Deixe um comentário