quinta-feira, abril 25 2024

Se alguma despedida poderia ser tão dolorosa para os fãs de Grey’s Anatomy quanto o próprio fim da série, certamente seria a da Dr. Cristina Yang, nossa ‘pessoa’, a alma gêmea de Meredith e a energia pulsante que vibrou por dez anos pelos corredores do nosso hospital favorito em Seattle. Já tendo presenciado todo tipo de partida do elenco (principalmente por morte em acidente fatal), e conhecendo os níveis gregos do tipo de tragédia que acomete Meredith e as pessoas próximas a ela, foi um conforto e uma alegria poder acompanhar a construção que ocorreu desde meados desta décima temporada para uma saída digna da atuação magnífica de Sandra Oh e da importância da personagem para quem acompanha a série desde o início.

"What do you need? An ‘I love you’ or something? I love you." - Meredith
“What do you need? An ‘I love you’ or something? I love you.” – Meredith

Testemunhamos o crescimento de Cristina de interna ambiciosa à cirurgiã brilhante, vimos ela cumprir a promessa e o potencial que apresentou desde o início da série, há dez anos, e esse processo é muito recompensador. Sinto orgulho de Cristina como sinto orgulho dos sucessos dos meus amigos mais próximos; esse é o tipo de relação que criamos com personagens com os quais nos envolvemos intensamente. E admito que um dos momentos que me apertou a garganta foi quando Cristina deu um abraço em Bailey e no Chief Webber. A cena em si não teve nada demais, a não ser o reconhecimento pelos mentores que guiaram a trajetória de Cristina, e principalmente pela profissional respeitada que ela se tornou.

Porém, e como era esperado, nenhuma despedida, nem mesmo de Owen (que vou comentar daqui a pouco) foi tão emocionante como a de Meredith. Como bem aponta Cristina, não nos sentimos prontos para aceitar que esse capítulo da amizade entre as duas chegou ao fim, e é Meredith, já tão fortalecida pela sequência de perdas e de sofrimentos que passou ao longo dos últimos dez anos, quem precisa colocar a mudança de Cristina em andamento quanto esta se sente paralisada pela necessidade de algum tipo de encerramento antes da partida. Foi tocante ver a antes tão desprendida Cristina com dificuldade de deixar as pessoas que eventualmente formaram a sua família – Mer, Owen e mesmo Alex, a quem a cirurgiã deixa não só a sua parcela do hospital, mas também o incentivo de não se deixar acomodar pelo dinheiro fácil da clínica privada em que trabalha.

As cenas entre as protagonistas foram uma sensível homenagem ao principal relacionamento de Grey’s Anatomy. Não o amor entre Meredith e Derek, também muito importante, mas a cumplicidade entre Mer e Cristina, evidenciada tanto pelo último momento de ‘let’s dance it out’ (com trilha sonara de Tegan and Sara, em uma referência à primeira temporada da série) quanto pela fala que mais me emocionou em todo o episódio: Você é minha pessoa. Eu preciso que você esteja viva. Você me faz ser corajosa.

Grey's Anatomy - Cristina e Meredith
“You’re my person. I need you alive. You make me brave.” – Cristina :’(

A despedida de Derek, com um único ‘goodbye’ e um abraço, também foi tocante e dentro da expectativa do que seria um momento assim para Cristina: sem grandes discursos, sem muitas palavras sentimentais, mas uma expressão de respeito e de carinho mútuo. E então teve o adeus a Owen. Vi muitos comentários de fãs reclamando a falta de uma cena que desse o mesmo sentimento de conclusão para o casal que os momentos com Meredith, por exemplo. E entendo o pedido, mas acho que Cristina está, de certa forma, correta. As coisas estão inacabadas entre ela e Owen, e certamente não se resolveriam em um diálogo de alguns minutos na reta final. Pessoalmente, achei a cena da galeria linda e foi o momento em que mais chorei, pela delicadeza e pela expressiva troca de olhares brilhantemente atuada por Oh e Kevin McKidd.

Grey's Anatomy - Cristina e Owen

Por mais que Cristina e Owen desejem intensamente estarem juntos, existe sempre uma barreira entre os dois – representada, na cena, pela galeria de vidro por onde Cristina dá o seu adeus. Em termos de despedida, não há nada a ser dito, nenhuma promessa a ser feita, nenhum ‘eu te amo’ dito em voz alta que já não esteja representado ali e que não soe como uma redução da complexidade que a relação se tornou – e do que os dois ainda podem se tornar, já que Cristina permanece viva, e Sandra Oh não só teve uma saída em ótimos termos, mas também já afirmou ter interesse em retornar para episódios futuros, especialmente o series finale.

O que nos leva a contemplar o que vem por aí para a décima primeira temporada de Grey’s Anatomy. Gostei muito de ver que o season finale foi uma combinação acertada e bem ritmada de momentos emocionantes e tensos, de desenvolvimentos narrativos para todos os personagens (mesmo pequenos, como o possível investimento de Callie e Arizona em uma mãe de aluguel para o próximo filho do casal) e da conclusão de algumas histórias (nominalmente Cristina, mas também Leah e Ross), enquanto outras começam a tomar forma – a tensão entre Meredith e Derek sobre a mudança para Washington e sobre a equivalência de importância para a carreira de ambos, o conflito entre Bailey e Alex pelo lugar de Cristina no conselho e a descoberta de (surpresa!) MAIS UMA irmã perdida de Meredith, com o agravante de que, ao que parece, a doutora Maggie Pierce é filha de Ellis Grey e Richard Webber.

GreysAnatomySeasonTenFinale

Com Fear (of the Unknown), Grey’s Anatomy mostra que ainda tem gás para fazer um episódio incrível sem precisar recorrer a tragédias excessivamente absurdas (gostei da resolução da explosão como acidental, e não terrorismo) e à exclusão de personagens por morte – por mais que não me importe muito com o novo grupo de internos, fiquei feliz que Leah e Ross deixaram a série com arcos bem resolvidos. A torcida agora é que os executivos da ABC não estendam a série além das próximas duas temporadas, para que Shonda Rhimes possa contar as excelentes histórias que ela é capaz de contar quando as tramas são planejadas e bem-amarradas com antecedência e com uma previsão de encerramento.

5star

 

Outras observações:

– A emoção na cena em que Mer tira Cristina da sala de preparação e a convence a ir para o aeroporto é evidente em ambas as atrizes. Depois descobri o porquê: foi a última vez que Ellen Pompeo e Sandra Oh gravaram juntas.

– Uma menção honrosa à possível adição de Catarina Scorsone ao elenco principal, por motivos de: te amo, Amy! Uma dica para quem não assistiu a Private Practice: faça isso. Amy teve histórias brilhantes na série, belamente interpretadas por Catarina.

– Vocês notaram que quase todos os desastres e algumas das principais mortes que aconteceram em Grey’s Anatomy foram mencionadas? O ônibus que matou George, o sumiço de Izzie, a bomba dentro da cavidade corporal, o descarrilamento do trem, a colisão entre as balsas, o atirador no hospital, a queda do avião e a morte de Lexie.

– E vocês também notaram que a primeira música do episódio, na cena do trailer de Owen, é uma releitura da primeira música que toca no piloto de Grey’s? A música é Portions for Foxes, de Riley Kiley, aqui interpretada por Caught a Ghost. O cover faz parte do Grey’s Anatomy 80’s Project, um investimento da série na reinterpretação de músicas clássicas da década de 1980.

‘É como se fosse doce, mas com sangue, o que é muito melhor’. <3

– Bônus: gifs de Meredith e Cristina no último dance it out.



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