quarta-feira, abril 24 2024

24 horas 6

[com spoilers do episódio 9×06] Sabe quando você pega o horário de almoço e vai em um buffet mais pelo preço do que pela comida? Este sexto episódio de 24: Live Another Day é meio que a mesma coisa: não é muito bom, nem muito ruim, tem algumas coisas que valem a pena, algumas que deixam um gosto ruim na boca e, no final das contas, cumpriu seu papel no grande plano da vida (ou da temporada). Muitas soluções fáceis, poucas cenas realmente interessantes e a sensação de que a história foi feita no modo Obras da Copa do Mundo (às pressas).

E tudo bem que a suspensão da descrença é pré-requisito para assistir à série, mas incomoda quando o presidente dos EUA, o primeiro ministro britânico, uns generais e mais uma galera de poder aí aceitam que é Bauer quem precisa se encontrar com o contato porque sim. Ok, tem a “explicação” (o sujeito não pode ser comprado ou dobrado e só vai dar a informação porque conhece Jack), mas ela depende de tanta gente concordando com algo tão absurdo que faz uma esquete do Monty Phyton parecer um vídeo sobre lógica – ainda mais quando Jack fala depois que o sujeito é ganancioso: não era mais fácil simplesmente oferecer um markzuckeberguilhão de dólares pro cara? A urgência visual de 24: Live Another Day (câmera na mão, zooms constantes, edição frenética) equilibra algumas situações meio nonsense, mas até mesmo a mente ansiosa por tiroteios e explosões tem limites, e basear a entrada do protagonista em uma premissa raquítica (e que precisa ser recontada e analisada e aceita por personagens supostamente inteligentes, o que expõe ainda mais sua anemia de sentido) enfraquece a trama.

Da mesma forma, a irmã de Naveed simplesmente despenca ali na história, surgindo em uma ligação que é o Prêmio Nobel das ligações inconvenientes. Em nenhum momento a moça havia sido apresentada e sua aparição é desprovida de qualquer empatia com o espectador ou carga dramática – não custava nada ter jogado ela em alguns momentos dos episódios anteriores para que sua presença tivesse mais relevância. Ao menos o rompante familiar serviu para tornar Simone uma personagem ainda mais interessante, já que podemos presenciar sua hesitação, o conflito com suas crenças, com sua mãe e, bem, com a irmã de Naveed. A terrorista fica tão dividida que, quando ela disputa os 100 metros rasos com ônibus cruzando a pista com a Yasmin, não sabemos realmente suas intenções.

24 horas kate

As cenas onde Kate é torturada também possuem uma tensão grande, ainda que a entrada do MI5 justo quando um botão importante vai ser apertado e um crânio vai ser furado é outra coisa que dá um tapa na cara da suspensão da descrença. Mas os castigos impostos à agente da CIA são realmente sofridos, dá para ver que os caras ali querem fazer um remake de Hostel, o que faz o público temer por aqueles belos olhos azuis – e o fato de que ela tenta enganar os torturadores com algumas informações genéricas, ao invés de assumir a pose de raiva falando “isso é o melhor que conseguem fazer?” tão tradicional nesse tipo de cena, só reforçam a impressão de que a moça está chegando ao limite (e a exaustão de Kate após sua épica escapada torna a personagem ainda mais tridimensional e humana).

Contando ainda com vários momentos onde Mark Boudreau aparece com cara de assustado, seja no pouco tenso encontro com Jack,  vendo o presidente abraçar a senilidade na frente dos outros ou conversando com os russos, o episódio é composto por cenas esquecíveis, e mesmo aquelas que poderiam trazer mais conflito (a conversa entre Heller e Davies) são tratadas como se fossem um chá das cinco. 24: Live Another Day vinha em um ótimo ritmo de overdose de ritalina até aqui, mas chegamos na metade da temporada e o sexto episódio dá sinais claros de cansaço. Resta torcer para que tenha sido apenas um tropeço e que os próximos eventos da temporada voltem a cativar o coração do público com relações complexas, ação inspirada e explosões.

2star

1 comment

  1. Toda a franquia ’24 horas’ foi furiosamente maculada após Jack protagonizar um frenesi de matança pelo assassinato daquela espiã ruivinha russa cujo nome me esqueci, que dormiu com ele em uma noite. Esse cara encontrou o cadáver executado da esposa grávida e depois conseguiu trabalhar com o perpetrador do crime, aquela linda da Nina, como o profissional que era. Aí mataram a vagabunda que ele comeu uma vez só e ele implode o mundo. Ridículo.

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