quinta-feira, março 28 2024

Episode 401

[com spoilers dos episódios 4×01 e 4×02] No final da terceira temporada, Brody virou uma estrela no céu na parede da CIA, mas, como diz o clichê, o show tem que continuar – então Homeland deu o pontapé nesta quarta temporada através de dois episódios eficientes, que mapeiam com clareza os elementos e temas iniciais da trama, ainda que algumas coisas sejam mais do que recorrentes (Carrie em problemas com a CIA, Carrie querendo algo que não pode ter, Saul e Mira discutindo por causa de trabalho). Mas convenhamos, não seria Homeland se Carrie não precisasse desafiar a agência para a qual trabalha.

Aliás, com a ausência do vira-vira-casaca favorito de todo mundo, o protagonismo da agente bipolar se torna ainda maior. E tanto The Drone Queen como Trylon and Perisphere não decepcionam, acompanhando a reação de Carrie diante dos acontecimentos para construir as motivações e conflitos da personagem (a frieza dela após a morte de Sandy, por exemplo, contrasta muito com a insegurança frente à filha). Os dois episódios não só reforçam o lado workaholic da moça como a tornam ainda mais desconectada de tudo, não sendo afetada pela morte de Sandy e sequer encontrando carinho e conforto na presença da filha, que parece ter mantido mais como uma maneira de se manter apegada a Brody do que por amor, da mesma forma que algumas pessoas mantém roupas ou objetos de entes queridos que se foram – e a complexa cena da banheira é tão tensa que até compensa o momento ridículo onde Carrie explica tudo que está sentindo para o bebê.

Mas a quarta temporada também parece que vai ser mais política: nessas pouco menos de duas horas iniciais, Homeland já comentou sobre a luta no Afeganistão (“lutamos 14 guerras de um ano“) e a utilização de drones (se bem que na real todo mundo pega no pé deles. Os drones são os novos nazistas de Hollywood). A preocupação do diretor Lockhart quanto às repercussões dos atos e a dúvida dos políticos sobre o trabalho da CIA no Paquistão e Afeganistão e outros países que terminam com “ão” reforçam essa ideia, trazendo a série para essa nossa realidade onde ficar bêbado de informações vagas e sair para brigar com um país menor não é algo muito bem visto frente à opinião pública.

homeland02Quem também ganha um pouco mais de destaque é Quinn, aqui sendo dolorosamente afetado pelos eventos (e o sujeito já deu indícios desse tipo de comportamento na terceira temporada) e lidando com tal fardo de forma madura e sensata (bebendo álcool descontroladamente). E não é algo pontual, não é um obstáculo para alguma coisa; a trama da personagem é o próprio esforço em lidar com tudo que já viu e já fez, o que confere um ar melancólico e trágico a The Drone Queen e Trylon and Perisphere que Homeland não vê com muita frequência. Além disso, a série ainda ganha pontos ao explorar os desdobramentos do ataque no outro lado, acompanhando a vida do jovem Aayan diante da perda, a maneira como ele se encaixa na percepção das pessoas que querem vingança e o mistério em torno de suas reais intenções (uma trama que é um pouco apressada, passa meio troteando, mas consegue fazer funcionar).

Pena que em alguns momentos Homeland se preocupa mais em exagerar do que em soar pertinente: não basta Carrie saber que mandou um casamento pelos ares (tipo, literalmente), é preciso algum piloto amargurado xingar ela; não basta a moça inconscientemente fugir da filha, é preciso que sua irmã se desmonte em lágrimas pelo esforço que ela tem que fazer; não basta Aayan aparecer no vídeo, ele tem que dar uma entrevista e aparecer no programa da Fátima Bernardes. E se Saul e Mira forem fazer de novo aquela dancinha do casamento que não funciona por causa do trabalho, bem, que estejam cientes de que eles serão a Dana da quarta temporada.

Ainda assim, o resultado é bastante positivo. The Drone Queen e Trylon and Perisphere conseguem envolver, construir sequências tensas (a morte de Sandy) e estabelecer os pilares para o desenvolvimento das tramas.  Enquanto isso, Carrie parece ganhar mais complexidade à medida que vamos descobrindo o quanto ela não se importa com o mundo fora de um filme do Paul Greengrass – algo que estes dois episódios ilustram bem ao colocar a moça chantageando o diretor da CIA em um velório e no belo plano final onde, sozinha em um avião, no meio das nuvens, mais isolada do que nunca, ela responde “estou bem“.

4star

4 comments

  1. Boa crítica. A morte do Brody fez com que eu duvidasse do retorno em alto nível nessa nova temporada. Mais acabou surpreendendo. Mesmo que ainda tenha muito a evoluir, a tensão típica da série continua. Espero que continue a evoluir e trazer mais tensão para nossa diversão.

  2. Resolvi dar uma nova chance a série e espero não me arrepender. Achei a morte de Brody (e a saída da família dele da trama) necessária para a série vingar.

  3. Brody não vai voltar?
    Achei a terceira temporada muito tensa…mas ainda acredito que Brody não esteja morto, pois aquele tipo de enforcamento poderia permitir que ele fosse reanimado posteriormente….

Deixe um comentário