[com spoilers do episódio 1×09] Harvey Dent, o nono episódio desta grande mensagem para a ex-namorada após a bebedeira que é Gotham, chegou para provar de uma vez por todas que não estamos acompanhando uma série, e sim um monte de piscadelas para os fãs da DC dizendo “viram? Viram como botamos elementos do Batman? Não é demais?”: com menos de um minuto de episódio, Selina Kyle aparece abraçada em uma garrafa de leite; em um diálogo de trinta segundos, Edward Nygma consegue usar a expressão “quebra-cabeças”, o que deve ser um recorde; e em uma conversa com Harvey Dent que dura menos de três minutos a expressão “aposta” é usada nada menos do que cinco vezes – mas, caso não fique claro, o advogado está sempre jogando uma moeda para cima em contra-plongée, porque Duas-Caras (eu realmente torço para que Dent eventualmente apareça em uma partida de beisebol ou basquete, porque estou curioso para ver como ele praticaria o esporte tendo que jogar a moeda para cima ao mesmo tempo).
Preocupados demais que estão em esquartejar a sutileza e enviar os pedaços para quinze países diferentes, os realizadores aparentemente fazem as tramas rodarem simplesmente elencando diversas situações e apertando o modo “aleatório” do player. Assim, é emblemático que Dent responda o comentário de Gordon sobre a aposta com os delinquentes com um “não sei“, porque ele realmente não sabe, e Gordon também não sabe, e na real ninguém sabe porque NÃO.FAZ.O.MENOR.SENTIDO! Mas o episódio é assim, atirando coisas aleatórias sem se preocupar muito com a lógica da história, já que mostra o detetive levando uma ladra de rua – que já o prendeu em um bueiro, nunca é demais lembrar – para uma mansão gigantesca, repleta de coisas para serem roubadas e onde mora uma criança com quem Gordon tem uma profunda conexão e empatia (ele não tem, mas a série tenta fazer que sim, então vamos acatar). Esse é o grande detetive, que confia em um advogado que arrisca na sorte o futuro de crianças (queria muito ver se Dent tem um colapso nervoso caso alguém diga “coroa“) e manda uma ladra instável e arisca dividir o quarto com alguém que ele quer muito proteger (sem contar o perigo dela ser a testemunha ocular do crime)? Esqueçam a corrupção, a polícia de Gotham precisa é lidar com a incompetência antes.
Talvez eles devessem contratar o Pinguim, que tira uma suspeita da cartola e invade o apartamento da Liza, comprovando sua hipótese de que ela está espionando através de uma elaborada investigação olfativa (em uma cena onde podemos ver o duelo de atuações: de um lado, Jada Pinkett Smith com os olhos semicerrados e o queixo para frente; do outro, Robin Lord Taylor recebendo tudo com uma risada. É sério. A primeira reação dele é rir. To achando que é o Coringa, e não o Pinguim). Ou ficar atento aos diálogos expositivos, como a carta de Barbara (o tempo em que o conteúdo dela é narrado é maior do que o tempo em que vimos Barbara sofrer por ter medo de Zsasz e Falcone) e Fish Mooney falando duas vezes que o objetivo do golpe é machucar seu italiano chefe, mesmo que todos ao redor já saibam. Mas quem sabe isso significa menos aparições da Barbara, vamos torcer.
É uma pena que a trama envolvendo Hargrove não tenha sido aproveitada. Ali Harvey Dent pareceu que ia ter um momento iluminado, já que o episódio apresenta a personagem e depois, através de um depoimento, muda a nossa percepção sobre ela. Além disso, parece a pessoa mais inteligente na cidade, se virando sozinha mesmo com materiais escassos (como a plaquinha da mesa) – e isso que não é um rapaz mentalmente são (ou talvez seja o único, vai saber). Da mesma forma, é interessante que Bruce se comporte como uma criança diante de outra (aliás, perceberam que ele parou de ir ao colégio assim que a ideia de aprender a se defender foi plantada? É fácil ser roteirista, hein?), mas não precisava desdenhar do bom senso e colocar a Selina Kyle ali. E esse é o ponto: Gotham não precisa gritar “Batman!” a cada cena. Tem que incorporar os elementos, claro, mas dentro de sua própria narrativa, sua própria história. Infelizmente, parece que tal mudança não vai acontecer tão cedo. Enquanto isso, só o que temos é piscadelas e “ei, você viu? É uma referência a um vilão do Batman!”.
4 Comments
Gibran Teske
eu gostei do episódio e estou gostando da série
Além disso a série fala da cidade de Gotham e não da origem do Batman.
Quanto ao fato do Gordon levar a Selina Kyle para a Mansão dos Wayne não vi nenhum problema em mostrar o começo do interesse amoroso entre Bruce Wayne e a Selina Kyle que futuramente irá virar aquele amor bandido que todos conhecemos
Bruno Luz Sousa
kkkkkkkk. Ótima review, como sempre. Série wannabe.
Mariana Lima
Ótima review! No começo me divertia com os episódios e seus vilões aleatórios, não levava a série a sério e por isso estava gostando. Porém, mesmo assim Gotham conseguiu me irritar, porque a série quer se levar a sério, mas quer enfiar goela a baixo plots sem sentido, conveniências de roteiro, enfim, tudo que você tem apontado nas suas reviews…. esse episódio foi o meu ultimo.
Leonardo Carlim
Concordo com alguns dos pontos destacados na review, mas sei lá, o nome da série é Gotham, acho que é questão de bom senso esperar esses tipos de referências sobre os vilões do Batman, concordo que poderiam ser mais sutis, mas é totalmente esperado.
Em relação ao Cobblepot, ele fica sabendo que tem um espião da Fish no círculo do Falcone, acho que o mais racional seria justamente suspeitar da última pessoa a ser incluida naquele círculo, aquela linda que esqueci o nome.