quarta-feira, abril 17 2024

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[com spoilers do episódio 4×08] Talvez seja o momento de fazer antidopping na produção de Homeland: a quarta temporada, que para muitos era um passo inevitável em direção ao brejo (eu incluído), vem mantendo um nível bastante alto em seus episódios. E este Halfway to a Donut chegou botando banca, carregado de tensão e intensidade para marcar seu lugar não só como o melhor episódio da temporada até aqui, mas também um dos melhores da série.

Investindo praticamente o tempo todo na movimentação de Saul, Halfway to a Donut constrói com cuidado a jornada do barbudo para envolver o espectador nos eventos. Assim, logo estabelece a condição de banheiro de estádio de futebol do cativeiro de Saul, bem como a posição dele com relação ao troca-troca de prisioneiros, e a partir daí, cada ação – escapar da cela, fugir para o mato, ir até a cidade, etc – é retratada como uma odisséia, exigindo um esforço colossal por parte do ex-diretor da CIA (e aqui a atuação de Mandy Patinkin é brilhante, conseguindo ilustrar todo o cansaço do sujeito). O episódio se preocupa em mostrar o desgaste da situação, mostrar como diversos obstáculos se atiram irritantemente no meio do caminho, e a forma com que estende a trama da “fuga” (não basta sair da cela, é preciso fugir, ir para a cidade, encontrar alguém, esperar pela equipe de resgate) cria uma atmosfera de tensão desconcertante.

Isso porque Halfway to a Donut não se faz de rogado e coloca uma equipe inteligente contra a outra: se por um lado Saul é esperto o suficiente para manipular o guarda na hora de escapar e a CIA logo desenvolve um plano de resgate objetivo, por outro os talibãs se aproveitam justamente dos recursos do inimigo para contra-atacar – e o fazem despachando um formigueiro de AK-47 na pequena cidade de Makeen. Como os terroristas não são bobos, cada momento que o ex-diretor da CIA fica nesse grande gato de Scrhödinger chamado “escapar vivo” aumenta exponencialmente a tensão, pois sabemos que Haqqani e os Fanáticos Amestrados estão atrás dele e é só questão de tempo até o barbudo ser premiado com mais uma diária no calabouço.

Essa construção cuidadosa permite que o episódio consiga colocar suas personagens em situações de instabilidade atômica e levar o espectador junto – e se ver Saul apontando uma arma para o próprio pescoço, após acompanhar todo o esforço que fez, é de revirar o estômago, acompanhar a decisão de Carrie e os berros de “fuck you” direcionados a ela é o pontapé inicial para o estado de choque. Halfway to a Donut foge das soluções agradáveis e se mantém fiel aos sentimentos de suas personagens, mesmo que isso vá mudar completamente a relação entre elas. E não há muito espaço para finais felizes em uma zona de guerra.

Pecando apenas por mostrar uma Carrie onisciente que magicamente descobre a adulteração das pílulas e por causa do desfecho com a informação sobre o embaixador – que nem de longe é ruim, mas após o lance com o Saul ele soa um pouco anticlímax -, o episódio é um grande exemplo do que Homeland é capaz quando resolve realmente botar a mão na massa. Mais um tiro certeiro de uma série que, contra todas as expectativas (as minhas, ao menos), vai se tornando cada vez mais interessante.

5star

7 comments

  1. Ótima crítica, senti essa coisa de nenhuma solução ser um caminho feliz, não tem jeito realmente e a série manda bem nisso. Mas quanto a Carrie perceber a adulteração do remédio, achei que demorou até, pois quando a pessoa toma medicamentos regularmente, se acostuma com os efeitos dele, já espera pela forma com ele vai bater no organismo, os efeitos colaterais… então assim que ela toma uma medicação e o efeito é assim tão diverso, a primeira coisa que vem a mente é essa, achei verossímil.

  2. Ela toma o remédio uma vez e dá um revertério, toma duas vezes e o revertério piora. Se não percebesse que o tinha alguma coisa errada com o remédio na terceira vez, então era imaginar que um dos efeitos colaterais era tornar a personagem muito burra. Para mim não houve nada de absurdo ela perceber que algo estava errado com o remédio na terceira vez que ia tomar o produto adulterado.

  3. O marido da Embaixadora oferece um doce típico do local e fala que é quase um donut, que só faltava um buraco no meio. Essa foi uma cena em que ele sabe por ela que descobriram que tinha um espião na embaixada.

  4. Só não consigo dar 5 estrelas pelo modo como foi construída a fuga do Saul onde ele estava preso, me pareceu excessivamente fácil. Mas de resto foi um grande episódio, as cenas de perseguição causaram uma enorme aflição, principalmente ao mostrarem no fim todos pontinhos vermehos todos por cima do azul

  5. MEU DEUS ESSA TEMPORADA TA MUITO FODA!!!!!! Coração na mão a cada episódio !!!!!

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