quinta-feira, abril 25 2024

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[com spoilers do episódio 2×09]Você é muito determinada, Meg“, diz a mãe da moça no início do episódio, utilizando o primeiro de tantos diálogos expositivos para fornecer informação ao espectador. Estamos no semi-season finale e Ten Thirteen resgata personagens que haviam aparecido em eras jurássicas da temporada e sumiram, buscando oferecer algum tipo de vislumbre do que está levando Meg a tal tresloucada conduta – mas o curto tempo que possui para desenvolver a (possível) grande vilã desse arco narrativo pastoreia o rebanho de vacas em direção ao brejo, impossibilitando qualquer abordagem mais envolvente. Só que Ten Thirteen também empurra a história para a frente com relativa eficácia e se torna relevante graças a um cliffhanger endemoniado.

Não que haja algo de errado em se aproximar de uma personagem que até então era coadjuvante, mas a grande âncora que prende o episódio à mediocridade é justamente a pressa, pois obriga a utilização de soluções embebidas em fracasso para que tudo caiba dentro dos 54 minutos. Por exemplo, não só a mãe de Meg define a personalidade dela em um diálogo rápido e que aponta uma característica até então inexistente (e é isso que vai “justificar” as ações dela) como Evie explica que em Jarden ninguém encontra o que busca (o que vai “justificar” a birrinha da moça com a cidade), e o próprio vidente faz questão quase dar uma palestra com PowerPoint esclarecendo que ela não vai gostar de descobrir o segredo – e, ao esconder do espectador a raiz de tanto ódio e dor, Ten Thirteen priva o público de compreender porque Meg está rosnando tanto, confiando que só o velho clichê do “você não vai gostar do que eu tenho a dizer” faça o trabalho de caracterização. É muito pouco.

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É interessante perceber que o boot de inicialização das decisões dela não é o 14 de outubro, entretanto, o que dá mais raiva pela forma como as coisas foram tratadas. The Leftovers flerta com Jarden sendo não uma salvação, e sim uma maldição, eternamente recebendo as esperanças das pessoas e brincando de jogar tudo no lixo, só que é um aceno de longe e sem consistência. Meg quer ver o circo pegar fogo e fomos informados das razões, mas não acompanhamos o quanto elas viraram o parafuso da moça, já que Ten Thirteen é bem objetivo e econômico com relação aos eventos envolvendo a futura terrorista (o grande sofrimento dela é chorar por menos de um minuto e comer cenouras, por exemplo). A linguagem visual até é bem apropriada e esperta, usando uma profundidade de campo curta para ilustrar o foco de Meg (e há uma rima visual sensacional no momento em que a líder do Culpa Inc. vê a mãe deitada e no momento em que deixa o ônibus escolar, já que a ideia de desfocar a cena tem dois sentidos diferentes: no primeiro, ela não acredita no que vê; no segundo, ela não se importa). Apenas não é o suficiente para compensar as deficiências do roteiro e, principalmente, do planejamento da temporada, que deixou para colocar na roda uma personagem importante no apagar das luzes.

Ainda assim, com relação à história, Ten Thirteen cumpre seu papel e vai empilhando as coisas direitinho para que o season finale chegue botando tudo abaixo: sabemos que há uma grande ação prestes a acontecer por parte do Culpa Inc. (que o próprio episódio sugere rapidamente em um plano de tipo meio segundo), sabemos que envolve violência (Meg discorda quando alguém diz que “violência é para os fracos“), sabemos que é grande (apedrejam um jovem barbudo e cabeludo, provavelmente estudante de jornalismo, que invadiu a propriedade) e sabemos que ela vai dar a descarga no coração de todos os habitantes de Jarden. A brilhante, mas brilhante mesmo, decisão de colocar Evie e as amigas como arma do Culpa Inc. é um daqueles momentos que soltam um genuíno “booh” do espectador. Aqui sim The Leftovers pegou um evento que passou a temporada dando importância e subverteu as expectativas, deixando todo mundo com um gostinho do quão acachapante as coisas podem ficar. Pena que a intensidade ficou toda para o final e pouco marcou presença no arco narrativo percorrido pela protagonista do episódio.

2star

1 comment

  1. As vezes o Ligado em Série tem uns textos bem bacanas, por isso de tempos em tempos dou uma passada aqui. Mas quanto a The Leftovers é melhor eu continuar lendo as reviews gringas e do Série Maníacos, visões impressionantes e certeiras sobre tudo que acontece nessa série. Tá feia a coisa aqui. Curioso que a série dar atenção pra uma personagem totalmente desconhecida faltando 1 episódio pro fim, na minha opinião, é o oposto de tudo que vc falou. Isso é ousadia e genialidade de uma equipe que tem um planejamento extremamente calculado como da pra perceber na nas entrevistas com o Lindelof e na forma como tudo foi amarrado no finale.

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