quinta-feira, abril 18 2024

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[contém leves spoilers] “A Marvel sabe o que está fazendo”. Esse é um pensamento recorrente durante a exibição de Capitão América: Guerra Civil, longa que chega aos cinemas nesta quinta-feira e que, bem, faz jus a todo o hype em torno. O argumento é simples: a iniciativa Vingadores começa a preocupar os líderes mundiais graças ao inúmeros danos colaterais que os herois “sediados nos EUA” causam. Pra isso, é proposto o Tratado de Sokovia, um pacto para regular a atuação e a jurisdição do grupo através da ONU, o que inevitavelmente leva a uma divisão dentro da organização e instaura a tão aguardada Guerra Civil.

Funcionando mais como uma espécie de Vingadores 3 do que um terceiro capítulo da saga de Steve Rogers, Guerra Civil já pode ser considerado um dos melhores filmes do Marvel Cinematic Universe graças à forma como dosa muito bem ação, belas reviravoltas e, é claro, o humor. Todo o processo de estabelecimento dos lados é realizado de forma orgânica, conforme as motivações, afinidades e experiências recentes de cada vingador. Assim, não é surpresa que mesmo o sempre certinho Capitão América vote pela não-ingerência estatal, já que seu injustiçado amigo Bucky (o Soldado Invernal) está no centro de tudo, enquanto o rebelde Homem de Ferro de Tony Stark – culpado pela repercussão grave das ações do grupo em Era de Ultron – decide apoiar os governistas e pedir pelo controle.

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Joe e Anthony Russo (que conhecemos muito bem de Community), então, tinham um trabalho homérico ao ter que apresentar e desenvolver essa história, introduzir novos personagens, criar uma cena épica do embate entre os lados e preparar a tocha para ser passada para o próximo filme. Econômicos, eles estabelecem o Homem-Aranha neste universo, por exemplo, com apenas algumas linhas de diálogo que explicam toda a trajetória de Peter Parker até ele ser recrutado por Stark (o que rende a melhor dinâmica de todo o filme, diga-se) e fazem o mesmo com o Pantera Negra através de uma rápida troca de palavras entre T’Challa e seu pai.

O elenco de veteranos em seus respectivos papeis serve para conferir ainda mais força ao filme. Assim, Robert Downey Jr. consegue experimentar com a resignação de Stark ao passo que Evans – levemente prejudicado pela dose carregada de maquiagem digital (reparem) – acaba se sobressaindo ao evocar as dúvidas e dilemas de suas ações. Destaque também para Chadwick Boseman, que estabelece seu Pantera com energia e foco, assim como o sempre ótimo Paul Rudd e seu irreverente Homem-Formiga.

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Aliás, cabe aqui abrir um parêntesis rápido para falar do amigo da vizinhança, que inevitavelmente rouba a cena no filme e se torna uma das melhores coisas toda vez que aparece em tela. Escalar Tom Holland para interpretar um Peter Parker mais jovem já se mostrou uma das melhores decisões da Sony em relação à franquia. O moleque é sagaz, engraçado, ágil e extremamente carismático, o que dá pra antecipar que o estúdio vai se redimir das bombas que produz protagonizadas pelo aranha desde o terceiro filme da primeira leva, passando por esses dois recentes com o Parker bocó de Andrew Garfield. É do Aranha também a frase que melhor resume toda a Guerra de Guerra Civil: “Ele está errado, acha que está certo e isso é perigoso”.

Quando estamos falando das cenas de ação de Capitão América: Guerra Civil – potencialmente as melhores, mais bem coreografadas e construídas de toda a franquia – vemos que os realizadores fizeram um trabalho exemplar ao não apenas extrair o máximo das capacidades e personalidades de cada heroi (e o Homem-Formiga possui uma cena chave nesse embate), como também em potencializar o confronto “pareando” aqueles que possuem capacidade de neutralizar o poder do outro e assim sucessivamente.

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Além disso, o confronto apresentado não é solucionado de uma hora pra outra como se uma simples referência materna resolvesse toda a treta. O confronto é duradouro; a divisão entre os Vingadores existe e será levada para frente. É também um filme consciente: em vários momentos o filme faz auto referências e até mesmo auto críticas, como o fato do casting da jovem tia May, questionando inclusive a “física” tortuosa do escudo do Capitão.

Infelizmente o terceiro ato do longa não faz jus aos dois primeiros, por focar no desenvolvimento das fracas motivações do vilão Zemo, que nem chega a ser o Barão Zemo (aliás, quando a Marvel fará um vilão com boas motivações? A conferir). Ainda que coerente com seu início – certa ação controversa de Stark no final encontra sustentação com o que o filme apresentou logo no início – é certo que Guerra Civil poderia ter um desfecho que evocasse a grandiosidade do restante da projeção.

Triste também perceber como todo o MCU é prejudicado pela pasteurização imposta pela classificação indicativa, que impede que vejamos violência gráfica na tela e até mortes inevitáveis – como a do Máquina de Combate, que é sugerida, mas não efetivada. A covardia da Disney em matar seus herois (a não ser por velhice) acaba trazendo uma sensação patente de que ninguém, em nenhum momento, verdadeiramente corre perigo e isso é ruim para a franquia como um todo.

Felizmente Guerra Civil possui muito mais acertos do que erros e termina como um dos melhores exemplares de seu gênero. Não é profundo em nenhum instante, já que rapidamente abandona qualquer discussão aprofundada sobre os temas que apresenta, mas cumpre inequivocamente sua função de levar para o cinema este grande marco das HQs.

4stars

Na cópia disponibilizada para a imprensa havia apenas uma cena pós-créditos. Na cópia final serão duas.

6 comments

  1. Além disso, o confronto apresentado não é solucionado de uma hora pra outra como se uma simples referência materna resolvesse toda a treta.

    ÓTIMA! AHAHHAHAAH

  2. “Infelizmente o terceiro ato do longa não faz jus aos dois primeiros, por focar no desenvolvimento das fracas motivações do vilão Zemo, que nem chega a ser o Barão Zemo (aliás, quando a Marvel fará um vilão com boas motivações? A conferir).”

    Cara, vi o filme hoje de tarde e achei o Zemo o melhor vilão da Marvel até agora. Difícil falar mais sem dar spoilers, mas gostei muito. E o terceiro ato faz o filme ter sentido, caso contrário tudo teria sido mero acidente, não o trabalho de um vilão.

    Ótima crítica. Abraço.

    PS.: vai rolar uma crítica com spoilers?

  3. “Além disso, o confronto apresentado não é solucionado de uma hora pra
    outra como se uma simples referência materna resolvesse toda a treta.” Tô gritando!

  4. KKKKKKKK, referência materna foi ótimo!!! Mas na moral, realmente não tinha como uma referência dessa acabar com o conflito (aliás, teria como um referência dessas acabar com ALGUM conflito de verdade! kkkk). Agora, não acontece exatamente um conflito né, mas uma brincadeira alá “rouba bandeira” onde um time A tem que impedir o time B de chegar num determinado objeto e pra isso fica de deboche, piada e pancadaria fofa. O único momento realmente grave do confronto acontece por acidente e sua gravidade é quebrada logo em seguida, quando mostra que ninguém realmente se machucou nessa história toda!
    Gostei do vilão, tem um motivação legal, mas sinceramente… Como é que um cara lá de um país distante pra caramba sabia de uma missão secreta que aconteceu há mais de 20 anos atrás e sabia que envolvia exatamente duas peças chaves do conflito? Se ninguém tivesse chegado lá na base, ele ia ficar esperando o dia que aparecessem? Mas isso é besteira, o filme é divertido pra caramba e cumpre bem seu papel de entreter e fazer rir como todo filme Marvel! E que venha Doutor Estranho!!!!!!!

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