sexta-feira, março 29 2024

Alívio é a sensação mais evidente que se pode ter quando você termina de assistir The Lying Detective, segundo episódio do que pode (ou não) ser a última temporada de Sherlock. Depois de um retorno bastante problemático, é inegável que o roteiro de Steven Moffat, aliado à direção segura e cheia de boas sacadas visuais de Nick Hurran (que também comandara o movimentado desfecho do terceiro ano, “The Last Vow”), coloca ordem na casa. Uma noção que fica clara ao vermos como o episódio adapta o conto The Dying Detective de maneira segura e instigante, ao passo em que vemos o protagonista lançado numa jornada sombria que dá peso ao conflito criado com o desfecho do anterior ao mesmo tempo em que nos apresenta uma reviravolta final curiosa e marcante o bastante para sugerir não só a promessa de um último(?) embate entre Sherlock e Moriarty, bem como a de explorar um capítulo obscuro do passado dos Holmes.

Fiel à promessa de que essa seria a temporada mais sombria da série, Moffat e Cumberbatch nos apresentam um Sherlock absolutamente consumido por seu vício em drogas. E nessa perspectiva, o roteiro usa as “viagens” do detetive como a desculpa perfeita para construir o “jogo” que ele monta para se reaproximar de Watson e para nos enganar (no bom sentido dessa vez) sobre a identidade da cliente com quem ele conversa em boa parte do episódio e que pensávamos se tratar da filha do vilão da vez, Culverton Smith. Este, aliás, feito pelo sempre eficiente Toby Jones (Wayward Pines), surge como a representação marcante de um sociopata carismático e poderoso que, seguro do círculo de proteção que construiu, no entanto esconde um terrível segredo à vista de todos. Segredo esse que apenas um desequilibrado Sherlock parece ser capaz de enxergar e determinado a expor.

Nesse sentido, Moffat foi feliz ao contextualizar Mary como a catalisadora do caos em que Sherlock aparece mergulhado dando pleno sentido ao “Go to Hell, Sherlock!” que encerrou a mensagem deixada por ela, além de estabelecê-la como uma visão de Watson (além do próprio detetive, como uma das últimas cenas sugere) para jogar o fiel escudeiro de Sherlock numa espiral de expiação da culpa que sentia pela traição emocional que cometera. E se a atuação de Martin Freeman me incomodou no retorno da série, nesse episódio o ator encontrou o tom certo para explicitar não só a raiva que sentia de Sherlock, mas também a frustração por não saber lidar com as consequências de sua condenável escolha.

E se cheguei a especular no texto do primeiro episódio acerca de quem era a mulher  com quem Watson flertara, a surpresa de ver que ela tem sim uma ligação com Moriarty só não foi maior que a de descobrir que ela também é a irmã de Sherlock e Mycroft. E se é estranho ver que tanto o detetive quanto Watson falharam ao não perceberem com antecedência de quem se tratava aquela terapeuta de sotaque esquisito, dá para relevar, creio, considerando o estado mental de profunda confusão do primeiro e de luto do segundo. Condescendente demais dizer isso? Talvez, mas dado todo desenvolvimento do episódio, me parece justo dizer que a revelação funciona de forma orgânica não só como a última peça de um quebra-cabeça instigante construído ao longo da trama, mas também como um autêntico e quem sabe derradeiro plot twist para a série. Que venha O Problema Final!

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