quinta-feira, março 28 2024

“Mostre, não conte. Não se prenda exclusivamente aos diálogos para contar a história e explicar o que pensam e sentem os personagens. Deixe que as imagens façam isso.”

Christopher Nolan deixou e o resultado atende por Dunkirk, obra mais impecável estética e tecnicamente do diretor inglês e também uma de suas mais dramaticamente imersivas.

Escrito e dirigido pelo próprio Nolan (A Origem, trilogia Batman etc.), Dunkirk explora um capítulo marcante da 2ª Guerra, a operação Dínamo, sobre a batalha de tropas britânicas, então encurraladas pelos nazistas, na tentativa de evacuar da costa francesa ainda no início do conflito. É, na essência, um filme de guerra, claro, e que portanto mergulha o espectador num cenário triste e devastador. Contudo, mais do que isso, é uma obra que faz de quem a assiste não apenas testemunha da luta de tantos homens pela sobrevivência, mas também um passageiro que experimenta a angústia e sofrimento daqueles homens, bem como as motivações que levaram tantos outros (civis, inclusive) a se arriscarem na tentativa de salvá-los.

Valendo-se das poderosas e pesadas câmeras IMAX (inclusive embarcadas em aviões reais) com destacada perfeição e equilíbrio, Nolan usa as belíssimas imagens resultantes não só para estabelecer a dimensão e o nível de grandiosidade das três frentes retratadas no filme (a batalha na praia; a dos céus e a do mar), mas também para criar situações que inegavelmente fazem com que o público consiga sentir o que os personagens estão sentindo. Nesse contexto, amparado pela impactante trilha de Hans Zimmer; pelo impressionante desenho de som e pela fotografia marcante de Hoyte Van Hoytema, Dunkirk se vale da montagem de Lee Smith para imprimir um tom de tensão e urgência constante de uma sequência à outra nos três momentos retratados que se passam no intervalo de uma semana (praia), um dia (mar) e uma hora (ar).

Despontando como um dos filmes mais econômicos da carreira de Nolan – pelo menos no que tange à duração (1h e 46 min) -, Dunkirk dedica pouco tempo para desenvolver seus personagens, mas ao optar por seguir fielmente e bem a já citada cartilha que rege o Cinema  que abre essa crítica, o filme ainda assim é suficientemente capaz de despertar nossa empatia com boa parte deles, quer seja por evidenciar a fragilidade do soldado que faz de tudo para sobreviver às situações mais absurdas; a humanidade e o destemor do barqueiro vivido pelo veterano Mark Rylance; o espírito de liderança inabalável do comandante de Kenneth Branagh ou ainda do senso de dever a ser cumprido, custe o que custar, do piloto feito por Tom Hardy.

Nesse cenário, à medida em que Dunkirk se aproxima de seu desfecho no terceiro ato, não saber (ou não lembrar) dos nomes de boa parte daqueles personagens já nem importa tanto, porque você provavelmente já estará absolutamente preso às suas histórias e aos conflitos que eles experimentam e tomado pela tensão de quem só quer que tudo termine logo e bem para os que sobreviveram aos horrores de uma batalha que Nolan consegue humanizar e transformar em espetáculo audiovisual através de suas lentes inspiradas, resultando em um dos melhores exemplares que o Cinema produziu nessa interessante safra de 2017.


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