quinta-feira, março 28 2024

Um dos melhores filmes de 2014 foi, sem dúvida, Kingsman: O Serviço Secreto. O longa de Matthew Vaughn trouxe ares novos para o gênero de ação e espionagem, repleto de sequências absolutamente genais e intensas, além de estabelecer a agência Kingsman no mesmo patamar daquelas vistas em 007, Jason Bourne Missão: Impossível.

Assim, é inevitável o problema que sua continuação, O Círculo Dourado, tinha pela frente. Pois bem, por um lado Vaughn consegue aqui a proeza de sedimentar Kingsman como uma marca potencialmente vindoura, em especial graças às elaboradas e estilizadas cenas de ação e o uso genial de sua câmera insana, mantendo tecnicamente as bases do original.

Assim, quando toda a agência britânica é devastada – o que demonstra uma bela ousadia por parte dos roteiristas – Eggsy (Taron Egerton) e Merlin (Mark Strong) descobrem a existência da Statesman, braço similar nos EUA e que disponibiliza seus recursos para ajudar na nova ameaça global: a inescrupulosa e divertida Poppy (de Julianne Moore), que mantém boa parte da população mundial à beira da morte com suas drogas recreativas distribuídas em massa.

O absurdo segue como marca registrada de Kingsman, mas de um jeito ou de outro o longa sempre consegue justificar os acontecimentos esdrúxulos (como a volta do Arthur de Colin Firth ou as tecnologias malucas empregadas) de maneira coerente com o universo já estabelecido. Positiva, inclusive, a discussão levantada com relação ao combate às drogas e a hipocrisia de certos governos ao lidar com essa questão de saúde pública, com direito a uma incisiva alfinetada à atual administração norte-americana.

Porém, nem tudo são flores. O Círculo Dourado sofre para acrescentar novidades em cima do original e não parecer uma tentativa fraca de emular o que lá funcionou. Assim, ele acaba se tornando uma cópia pálida de O Serviço Secreto, mesmo que involuntariamente, seja nas reviravoltas, nos arcos desenvolvidos e até em algumas das desnecessárias piadas misóginas (a própria organização do “Círculo Dourado” do título é muito mal apresentada e desenvolvida).

À exceção da eletrizante primeira sequência de ação num carro, aliás, a continuação jamais consegue se superar nas demais cenas de ação do primeiro. Não espere, então, um tiroteio maluco como aquele visto na igreja e que culminou na “morte” de Arthur, embora apresente um ou outro momento mais inspirado.

Ainda assim, contudo, Kingsman consegue divertir a audiência com diversas piadas e gags envolvendo os Statesman, o personagem de Chaning Tatum e os métodos deles que sempre remetem à brutalidade velho oeste, contrapondo à formalidade e elegância dos agentes ingleses. Nesse sentido, Pedro Pascal (Narcos) se mostra como uma ótima adição à franquia graças ao seu inesperado timing cômico e sua forte presença de cena (embora um acontecimento na trama ponha tudo isso por água abaixo). Há também uma inesperada participação de um lendário cantor, mas que se estende mais do que deveria. O filme também praticamente desperdiça outros ótimos atores como Halle Berry e Jeff Bridges e o próprio Tatum, o que é uma pena.

Pouco inovador em termos narrativos e repetitivo tematicamente (os arcos são estruturalmente similares), Kingsman: O Círculo Dourado tinha tudo para ser o blockbuster do ano, mas necessidade de Hollywood em repetir fórmulas de sucesso acaba tornando esse exemplar “apenas” como um bom, mas esquecível filme de ação, bem longe do que foi a primeira iteração.

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