quarta-feira, março 27 2024

Criador de séries icônicas para a HBO como The WireTreme, David Simon retorna hoje às 21h na tela do canal para seu novo projeto: The Deuce. A série ambientada nos anos 70 aborda o momento em que o sexo se tornou um produto que movimenta bilhões de dólares nos Estados Unidos, no qual o centro do comércio do corpo era o coração de Nova York.

Estrelada por James Franco e Maggie Gyllenhaal, a primeira temporada de The Deuce, composta por oito episódios.

Simon e o co-criador da série George Pelecanos, conversaram com o Ligado sobre a série e deram detalhes do seu processo como criadores e realizadores. Comecei perguntando pra eles como é estrear um novo drama no atual panorama da televisão, abarrotada de novos projetos tanto na TV aberta, TV paga e, especialmente no streaming. Simon respondeu:

“É muito difícil dirigir um carro sem olhar no retrovisor, pra ver o que mais está atrás de você, mas é isso que eu tento fazer. Independente do que a TV está fazendo hoje, nós preferimos focar no que a gente está fazendo e no que a gente sabe fazer porque é ineficiente tentar absorver o que está acontecendo na indústria como um todo, seja para criar a série ou para definir o tema que vamos abordar”

Sobre a temática e a ambientação da série, que fala abertamente da indústria do sexo, George Pelecanos, que também trabalhou com Simon em Treme, completa:

É uma temática muito difícil de levar para a televisão. Muitas séries já tentaram tratar do tema e acabaram sendo canceladas, outras sequer passaram do piloto, especialmente por tentar fazer uma produção sobre pornografia em massa sem ser apelativa. Por isso decidimos focar na legalização da prostituição na cidade de Nova York, que representou uma virada cultural em todo o país e acho que é isso que distancia The Deuce de outras produções do gênero, até mesmo das bem-sucedidas como Boogie Nights“.

Os produtores também falaram sobre as cenas que retratam a realidade da prostituição em Nova York. Para Pelecano:

“O trabalho de câmera precisa ser honesto, sem glamurizar o ramo ou virar a cara para o que não é bonito. Em vez disso, optamos por usar uma abordagem sincera e direta sobre o que é este produto. Com isso, conseguimos navegar a série numa direção completamente diferente, evocando a humanidade dos personagens e sem ‘mentir’.

Simon, por sua vez, tem a mesma visão do colega:

Falar de prostituição e pornografia como algo que não é apenas uma transação comercial seria fazer o que filmes como Uma Linda Mulher. Não é ético tratar esse mercado de uma forma romantizada. Por outro lado se você foca só em cenas de sexo e nudez, você está essencialmente fazendo pornografia e não era isso que queríamos [para The Deuce]. Atingir um meio-termo justo foi uma discussão constante no set, com atores, produtores, roteiristas etc. No fim, o público verá se conseguimos nosso objetivo ou não”.

The Deuce também tem cenas emblemáticas ambientadas na Nova York dos anos 70, com tomadas abertas, planos longos que evidenciam o trabalho excelente do design de produção que conseguiu nos transportar para a década. Perguntei a Simon como foi “criar” essa cidade e como foi o processo:

Fazer uma série de época em Nova York é uma loucura. Mesmo assim a gente não achou que daria pra fazer a série em Cleveland ou num estúdio em Vancouver ou coisas do tipo. O problema é que nada aqui parece com a Nova York dos anos 70 mais, então tivemos que ir bem ao norte da cidade pra achar locações com imóveis que poderiam parecer com marcos da cidade naquela época, inclusive Times Square.”

O desafio, segundo eles, foi do pessoal do design de produção e envolveu também o departamento de efeitos visuais:

“Nós tivemos que ‘vestir’ os andares de baixo de todos os prédios ao filmar com placas e adereços de época, mas também precisamos de usar efeitos visuais para ‘esconder’ a modernidade da cidade e também para recriar o que não mais existe. Aí você junta com os carros, os figurinos etc. e aí conseguimos o efeito desejado. Mas foi bem difícil.”

O resultado você vê em The Deuce estreia hoje 17 de setembro às 21h na HBO (no meio do Emmy, pois é), mas o episódio já está disponível na HBO GO desde o começo do mês. A transmissão, com uma semana de atraso em relação aos EUA, seguirá todos os domingos.

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