quarta-feira, abril 10 2024

O capitalismo é um sistema doente e moralmente corrompido. E se você ainda tem dúvidas disso, basta assistir a Na Rota do Dinheiro Sujo (Dirty Money no original), nova série documental que entrou no catálogo da Netflix no dia 26 de janeiro. Criada por Alex Gibney (do doc Enron: Os Mais Espertos da Sala), essa nova produção dividida em seis capítulos joga luz sobre histórias distintas, mas com um tema em comum: empresas e empresários agindo sem qualquer escrúpulo na busca do lucro a qualquer custo.

No primeiro episódio dirigido pelo próprio Gibney, a série explora o escandaloso esquema envolvendo a Volkswagen e o uso de um dispositivo em seus carros que reduzia, de forma fraudulenta, o nível de poluição emitida por motores a diesel quando testados em laboratório. Traçando um paralelo entre os pilares da fundação da empresa (então amplamente apoiada pelos nazistas que não admitiam ver a indústria automobilística alemã num papel coadjuvante) e essa recente iniciativa criminosa orquestrada por executivos do mais alto escalão da companhia, o capítulo expõe ainda, de forma pungente, evidências de que a empresa sabia que a ação contribuiria para um aumento exponencial de mortes por intoxicação (oriundas da poluição), mas que preferiu mentir e enganar clientes mundo afora em prol de margens de venda e lucros recordes.

O segundo episódio, por sua vez, analisa a indústria do empréstimo consignado e como várias dessas financeiras – buscando atingir um público de baixa renda com o qual os bancos tradicionais geralmente não tem ou querem qualquer relacionamento -, usam subterfúgios que criam verdadeiras armadilhas e transformam o empréstimo fácil num pesadelo para milhares de pessoas. Acompanhando os desdobramentos de um processo que levou ao indiciamento de um ex-piloto americano de Stock car que ficou bilionário ao montar uma financeira sustentada por juros predatórios frutos de contratos com termos pra lá de mal intencionados, o episódio tem como ponto alto o momento em que o entrevistador pergunta ao dono da empresa, àquela altura dizendo-se vítima do governo, se ele era um homem de moral ao que este responde, de forma bastante reveladora: “sou um homem de negócios”.

A indústria farmacêutica também ganha destaque no terceiro episódio que fala sobre como o CEO de uma empresa – contando com a parceria de bilionários investidores de Wall Street -, alçou-a à lista das mais valorizadas na bolsa de valores, ao implementar como estratégia de negócios a aquisição de marcas detentoras de remédios exclusivos (muitos deles usados em tratamento de câncer e doenças raras) e a partir daí aumentar exponencialmente seus preços e consequentemente as margens de lucro. Já no quarto capítulo, o foco cai sobre o caso do banco HSBC, que por anos lavou dinheiro dos cartéis de drogas mais violentos do México e que ao ser exposto, saiu-se pela tangente com a desculpa de que precisava e iria melhorar seus controles internos e que aceitava, como “castigo”, pagar uma multa equivalente a poucas semanas de seu lucro anual sem sofrer qualquer outra consequência.

Livre mercado ou mercado regulado, o que é melhor? Prós e contras viram objeto de análise no penúltimo episódio que fala sobre o xarope de borda, uma especiaria tipicamente canadense cujo barril vale mais que petróleo e que é controlada com mão de ferro por leis que determinam preço, demanda e oferta e transformam pequenos produtores em reféns de um sistema poderoso e pouco disposto a ceder. Já o sexto e último episódio de Na Rota do Dinheiro Sujo, fala sobre a história do atual presidente dos EUA e expõe como Donald Trump usou a mídia para vender, ao longo de anos e anos, a imagem falsa de um empresário bem sucedido, mas que no fim era e continua sendo apenas uma farsa que concentra tudo de ruim que um homem capaz de decidir o destino de milhares de pessoas jamais deveria ter.

Fazer uma maratona dessa série documental é fácil. Difícil é conseguir terminar cada episódio sem ficar indignado com o que acabou de assistir

Deixe um comentário