quarta-feira, março 13 2024

Obras seminais não são peças de arte comuns. Elas são peças criadas por artistas que as conduzem ao sucesso em crítica, público, audiência e/ou bilheteria, fazendo com que sirvam de inspiração para que outros artistas do presente e do futuro criem também obras bem-sucedidas.

Em termos de seriados, a HBO era a campeã absoluta da televisão mundial durante as décadas de 1990 e 2010. Desde as desventuras retratadas em Sex and the City até a variedade de Westworld, Curb Your Enthusiasm e Game of Thrones, o canal de televisão norte-americano não possuía grandes concorrentes que pudessem tirá-la do páreo no contexto de séries de qualidade com distribuição pelo mundo inteiro.

No entanto, com o avanço da internet, o panorama mudou radicalmente. Os serviços de streaming deixaram de ser meros arquivos de programação de canais como a própria HBO e passaram a criar conteúdo próprio usando os vastos recursos oriundos do seu número de assinaturas. E, assim, os serviços de streaming também começaram a desenvolver obras seminais para a indústria, incluindo aí Stranger Things, da Netflix, e a série The Boys, distribuído pela Amazon Prime, que inclusive foi exibido pelo SBT desde agosto.

Assim, a HBO parece ter finalmente encontrado adversários para lutar páreo a páreo com ela. E uma delas, a Netflix, foi ousada ao contratar os criadores de uma das séries mais famosas do canal de televisão, Game of Thrones, para comandar a adaptação da história chinesa “O Problema dos Três Corpos”.

Sistemas dinâmicos geram caos no universo

Antes de Game of Thrones, a dupla composta por David Benioff e Dan Weiss já havia se encontrado em 1995, durante uma ida à Irlanda para aprender sobre a literatura do país no Trinity College. Ambos colaboraram em vários roteiros juntos, parceria que culminou com a produção de Game of Thrones a partir de 2011.

Bem antes de a série chegar ao seu fim, Benioff e Weiss já eram procurados por rivais da HBO para produzir obras para estas empresas. A Disney chegou a um acordo com a dupla já em 2018 para a produção de uma nova trilogia dos filmes da franquia Star Wars. Entretanto, tais planos foram abandonados devido ao acordo celebrado entre Benioff, Weiss e Netflix no ano seguinte.

Após voltarem ao ritmo de produção de peças audiovisuais com o especial de comédia de Leslie Jones, Máquina do Tempo, Benioff e Weiss se encontram preparados para voltar ao mundo da fantasia. Mas dessa vez, em vez de usar somente a ambientação medieval para contar a história da trama nas telas, a dupla usará a ficção científica na adaptação de “O problema dos três corpos”.

O primeiro livro da trilogia do autor Liu Cixin, que dá nome à trilogia em si, conta a história de uma invasão antecipada pela Terra por um sistema estelar vizinho ao nosso. Tal sistema conta com três estrelas solares que orbitam entre si de forma caótica por conta de não terem uma circulação definida. O único ponto de referência desse sistema é o centro de massa entre os três corpos em questão, enquanto os mesmos viajam aleatoriamente em volta desse ponto.

Isso acaba causando caos em um planeta desse sistema, chamado de Trisolaris. Os habitantes desse planeta sofrem com temperaturas extremas e a consequente destruição de suas civilizações de forma regular durante este ciclo, mesmo quando estas civilizações conseguem alcançar avanços tecnológicos muito maiores do que os da Terra em si.

A adaptação da obra estava em disputa entre Netflix e Amazon, com a primeira saindo vitoriosa nessa luta. O acordo de compra dos direitos de adaptação foi estimado em 1 bilhão de dólares, superando assim a marca da compra dos direitos de adaptação de O Senhor dos Anéis pela Amazon em 2017.

Experiência em Game of Thrones pode ser o diferencial

Além disso, “O problema dos três corpos” tem a vantagem de contar com dois showrunners com bastante experiência em tornar adaptações de história de fantasia em sucesso. E, com a inclusão de nomes como o do diretor de Star Wars Rian Johnson, a produtora de GoT Bernadette Caulfield e até o ator Brad Pitt por meio de sua produtora de filmes, a Plan B Entertainment, vê-se que a confiança que está sendo depositada nesse sucesso é grande.

Como todos sabemos, Game of Thrones foi um sucesso estrondoso, que se refletiu inclusive em uma série de produtos associados à franquia e que obtiveram bastante fama não apenas entre o público cativo do seriado, mas também entre pessoas que não necessariamente eram fãs de GoT. As camisas das famílias de GoT, como Stark e Lannister, foram e ainda são sucesso dentro e fora do fandom da série, podendo ser encontradas em diferentes sites, como o da Elo7, que vende diferentes tipos de artigos. O caça-níquel de Game of Thrones, disponível em sites de cassino online como a da Betway Cassino, conta com a presença das grandes famílias da série, além de elementos célebres como o trono de ferro e a trilha sonora utilizada no seriado. O sucesso de GoT é registrado também em personagens da série em formato de bonecos Funko Pop, além, é claro, do jogo de tabuleiro baseado no seriado, laçado no Brasil pela Galápagos Jogos, conforme comenta o site Board Games PG.

Tal lista de produtos mostra como a força de Game of Thrones ultrapassou as telas, chegando ao público de diversas formas diferentes. Sua presença foi marcada não só na indústria do entretenimento em si, mas também no mundo dos negócios e nas universidades, visto que inspirou cursos acadêmicos e profissionais em torno das lições apresentadas no seriado.

Grandes Expectativas

É bem possível que O Problema dos Três Corpos tenha um efeito semelhante em termos de sucesso de público. Não só por sua base científica muito bem fundamentada, mas também pela trama em si, que envolve a história da sociedade chinesa a partir da Revolução Cultural que aconteceu entre 1966 e 1976.

Além de intrigas interestelares e interpessoais, o enredo apresenta uma não-linearidade temporal, introduzindo novos conceitos ao leitor a cada capítulo. Tudo isso por meio de uma prosa digna de aplausos por parte do engenheiro Cixin, que se tornou escritor de ficção científica no fim da década de 1980.

Logo, as expectativas são enormes. Talvez tão grandes quanto o acordo de 1 bilhão de dólares que a Netflix teve de assinar para garantir para si os direitos de adaptação da obra de Cixin. E, com a dupla Benioff e Weiss cuidando da série, e muito possivelmente buscando uma redenção entre o público após as reações negativas em relação ao desfecho de Game of Thrones, temos aí uma receita para uma nova grande obra para o universo de séries televisivas.