quinta-feira, abril 25 2024

Em vários momentos da excelente 2ª temporada de Euphoria, que estreia esta noite às 23h na HBO e HBO Max (será exibido um capítulo por semana), parecia que eu estava assistindo a uma cena extraída diretamente de um filme de Quentin Tarantino, algo que o roteirista e diretor Sam Levinson faz questão de sublinhar em pontuais referências. A cena de abertura, inclusive, deixa claro que a produção retornou bem mais ousada após o sucesso instantâneo de seu primeiro ano e os episódios seguintes continuarão esta tendência.

O ano novo chegou para os alunos East Highland e as várias tramas interrompidas ao fim da 1ª temporada são imediatamente retomadas após uma longa pausa (causada pela pandemia) e dois excelentes episódios especiais centrados em Rue (Zendaya, Homem-Aranha: Sem Volta Para a Casa) e Jules (Hunter Schafer).

O casal é, por óbvio, o ponto central da narrativa de Euphoria, embora o texto de Levinson equilibre de forma impecável (e melhor que no ano um) o tempo em tela com as histórias do sempre interessante núcleo coadjuvante, com destaque para uma maior compreensão sobre o passado de Fez e Ash; um triângulo amoroso caótico entre Cassie (Sydney Sweeney, The White Lotus), o boy-lixo Nate (Jacob Elordi) e Maddy (Alexa Demie) e, não menos importante, as jornadas de Lexi (Maude Apatow), Cal (Eric Dane, Grey’s Anatomy) e Kat (Barbie Ferrera), que desempenharão grandes momentos individualmente.

Mas é após a reconciliação de “Rules” que Euphoria coloca o pé no acelerador (de uma forma boa) para dar o start nesta intimista, mas agitadíssima temporada. Enquanto Rue tenta se reequilibrar após a grande recaída do último season finale e provar para sua companheira que está em reabilitação, a chegada de Elliott (Dominic Fike) vai estremecer esta relação de uma forma inusitada, com direito a uma dinâmica que se inicia como um clássico trisal e evolui para algo, digamos, conflituoso.

Outro grande trunfo desta nova temporada é a quantidade de metalinguagem que Levinson carrega para a tela, mostrando um controle absoluto e invejável de sua criação, com direito a flashbacks, sequências de sonho/imaginação e uma montagem que jamais permite (propositalmente) que a narrativa seja fluida ou coesa, já que a história é contada na mente fragmentada de uma viciada em narcóticos em (tentativa de) recuperação, o que leva a momentos excelentes em que um assunto é interrompido de forma abrupta para dar espaço a um longo “parêntesis” até ser (ou não) retomada.

E se Zendaya mereceu todos os prêmios (incluindo um Emmy de Melhor Atriz) pela composição errática e irresistível de Rue na primeira temporada, eu sugiro que os guilds, associações de crítica e academias televisivas já enviem as estátuas para ela desde já, pois além de mais confortável, a atriz – que só melhora – traz uma interpretação ainda mais arrasadora, apresentando contornos ainda inéditos em sua interpretação da personagem.

Euphoria já é, certamente, a série que melhor retrata a “Gen Z”, não apenas por abordar os inerentes e ásperos temas, mas também por fazê-lo de forma original, utilizando uma fotografia arrojada (alguns episódios são filmados em Kodak Film 35MM, o que é raro em TV), a já costumeira trilha-sonora eloquente e irretocável e técnicas de captação e angulação pouco usuais, quase que criando um subgênero próprio e distinto da maioria das produções que tratam de assuntos semelhantes.

Há, sim, momentos em que um aviso de gatilho provavelmente será necessário (e por isso recomendo que determinados espectadores avaliem a pertinência de assistirem à série com algum recurso de apoio), mas nada jamais é retratado de maneira irresponsável (como na péssima 13 Reasons Why), já que a série não glamoriza as atitudes inconsequentes de Rue ou de outros personagens que estão vivenciando problemas relacionados à saúde mental – aliás, ela deixa totalmente claro por meio de mais uma passagem de quebra à quarta parede que boa parte do que está sendo exibido é um contra exemplo.

Tendo assistido a 7 (dos 8) episódios enviados pela HBO, posso afirmar categoricamente que a 2ª temporada de Euphoria supera o já alto nível estabelecido pelo seu ano de estreia e praticamente garante seu lugar em boa parte das discussões que movimentarão não apenas o fandom, mas todos os espectadores da atração.