domingo, maio 5 2024

gotham the mask

[com spoilers do episódio 1×08] Andam comparando muito as séries televisivas com as produções Hollywoodianas: grandes orçamentos, linguagem cinematográfica, temas complexos, abordagens diferenciadas, a própria presença de nomes importantes do cinema (Matthew McConaughey, David Fincher, Kevin Spacey, Jodie Foster, Woody Harrelson, etc). Mas e se a televisão começou a pegar também os cacoetes incômodos de Hollywood? A quantidade absurda de adaptações de filmes para o formato televisivo (From Dusk Till Dawn, Fargo, Hitch, Minority Report, Limitless, 12 Monkeys, American Gigolo, Bates Motel, Hannibal, Scream, Cloudy With a Chance of Meatballs), spin-offs (Better Caul Saul, The Originals, The Walking Dead, Play It Again, Dick, mais um CSI) e produções que possuem alguma relação com atuais blockbusters (Agents of SHIELD, Demolidor, Arrow, Flash, Supergirl) dão a entender que, assim como a colossal indústria cinematográfica norte-americana, a televisão está partindo para um caminho de investir em mercados seguros, tentando espremer até a última gota desse momento onde a simples associação a algo que já ganhou status quase religioso é o suficiente para deixar todo mundo em um frenesi de pontos de exclamação (“Breaking Bad é a melhor série de todos os tempos, você precisa ver o spin-off!”, “A moça lá de Thor vai aparecer em Agents of SHIELD!”, “Minority Report é demais, que bom que vão fazer uma série, quero mais e mais e mais!”).

Gotham é sintomática dessa filosofia. Datada desde o primeiro episódio, sem oferecer absolutamente nenhuma recompensa ao espectador, sobrevive graças ao hype em torno de um herói que nem aparece (filmes do Batman do Christopher Nolan são sensacionais + séries hoje em dia são sensacionais = Gotham é sensacional) e à legião de fiéis que hiperbolizam qualquer coisa relacionada à Marvel ou à DC, reunindo multidões furiosas com tochas sempre que alguém comete o crime inafiançável de discordar das hipérboles. Não quero dizer aqui que ninguém pode gostar da série ou que quem gosta será encaminhado ao lar do tinhoso no dia do juízo final (embora eu não recomende), não é isso; apenas que, em larga escala, o que sustenta Gotham é a certeza de que os fanboys vão consumir e engolir qualquer coisa (nem todos, claro, mas a maioria), somada à conivência de diversos veículos de mídia que tratam qualquer coisa como o grande evento do ano porque, adivinhem só, é isso o que vai atrair fãs (e cliques), alimentar o hype, incentivar as empresas a investirem mais nesses projetos porque “é sucesso”, levar as pessoas a assistirem esses novos projetos – que vão permitir novas manchetes absurdas, atrair mais fãs (e cliques), alimentar o hype… Uma busca rápida por “Gotham” e “Marvel” em sites como Mashable e Vulture resulta em manchetes do tipo “Este teaser de Agent Carter nos deixou mais empolgados do que deveria“, “Alfred mostra seu lado durão em Gotham“, “Porque os fãs de super-heróis estão enlouquecendo neste momento“.

The Mask possui os mesmos problemas que os episódios anteriores: é apressado, possui uma montagem excessivamente frenética, atuações ruins, personagens sem graça, dramas mal desenvolvidos, decisões ridiculamente óbvias e fáceis (Sionis tem na parede um poster onde ele usa uma espada e o título diz “Preparado para a guerra”) e por aí vai. Mas francamente? Gotham não tem porque melhorar. O hype continua, a primeira temporada é garantida, o interesse por super-heróis mantém a série sempre na superfície da mídia e reviews de sites populares pisam em ovos em suas análises, tentando desesperadamente encontrar coisas boas e não falar muito mal porque isso poderia incomodar os fãs mais ardorosos, impactando o número de visitas na página. Claro, a audiência oscila – ainda que na casa dos milhões -, porque o público cansa de receber a mesma coisa. Mas isso nunca será muito problema para Gotham justamente devido ao material que a produção para trabalhar ( contando os elementos do seu universo e as produções da DC Comics em geral). Quer dizer, uma simples menção a uma aparição de alguma personagem ligeiramente conhecida (Duas Caras, Bane, Espantalho) no episódio seguinte e problema resolvido (se for o Coringa, os números furam o teto). Um anúncio de que o teaser de Batman x Superman: Dawn of Justice será exibido no intervalo da série e pronto, problema resolvido. Uma sinopse do tipo “Um repórter ingênuo de Metrópolis chega a Gotham para cobrir uma matéria” e pronto, problema resolvido. O arsenal de papel-pega-espectadores que Gotham possui é gigantesco.

Isso fica claro em todas as patéticas cenas envolvendo Edward Nygma, que sempre contam com alguma menção literal a charadas (ou uma charada) para que a série grite “ei, olhem, é o Charada! O Charada! O Charada está aqui, isso é demais, vocês precisam enlouquecer com isso”. É o evento que conta, o fato de que há uma personagem do universo do Batman ali, e não quem essa personagem é ou o que ela faz. Não tenho nenhum prazer em falar mal de Gotham nem torço pelo fracasso da produção. Não odeio super-heróis, muito pelo contrário (acho The Dark Knight uma obra-prima, fiquei maravilhado com X-Men: First Class, elogiei Guardians of the Galaxy até ficar sem adjetivos). E é por isso que me incomoda tanto ver que um universo tão rico e promissor seja explorado de qualquer jeito só para que alguém em algum lugar ganhe alguns trocados. Hollywood faz isso há tempos e já quase estragou/estragou de vez tanta coisa boa (Transformers, Piratas do Caribe, Se Beber Não Case, Capitão América, o próprio Batman nos anos 90) que, apesar de termos muitas séries muito boas hoje em dia, seria uma perda incrível para todos se a televisão mergulhasse de vez nessa filosofia.

1star

12 comments

  1. A serie cada vez melhor, e o nego me escreve essa critica sem noção..

  2. Gotham fica cada vez melhor. Há muitas coisas interessantes na série, como por exemplo a possibilidade de construir de forma mais cuidadosa e consistente a personalidade de Bruce Wayne, algo que o levará a se tornar o Batman. As personagens são ótimas, o tom de série policial também está começando a funcionar. A escolha do elenco merece aplausos, todos muito próximos às personage dos quadrinhos (com exceção da interpretação do James Gordon, que ainda precisa de muitos ajuste para acertar no tom – espero que faça parte do plano de transformá-lo de um jovem raivoso e idealista em alguém sem esperanças até o surgimento do Batman).

    Não vejo qualquer razão para essa crítica tão rabujenta aqui. Exceto o desconhecimento do universo do personagem Batman (que vem sendo muito bem retratado poucas vezes se retratou tão bem o ambiente claustrofóbico, sujo, corrupto e desesperador da cidade-natal do Batman, como nessa série – há momentos em que você praticamente se pega assistindo e torcendo para que a silhueta dele surja para dar conta da escalada de violência e corrupção que transborda da tela – é suspeito que só tende à piorar, para alegria dos fãs) e o já batido truque de blogs, de publicar qualquer coisa polêmica pra gerar Pages Views.

    Em resumo, essa crítica de vocês é desprovida de substância. Boa sorte da próxima vez.

  3. Qual o sentido do Ligado em Série manter alguém que sistematicamente apenas critica negativamente a série? Parece birra de adolescente que é fã de uma banda e só critica a banda rival.
    Gotham não é perfeita, mas está longe de ser esse lixo todo retratado nas críticas do colega aí.

  4. Disse tudo!Se ele não vê NADA de bom na série, que vá fazer críticas de outras! Pq perder tempo assistindo algo que detesta?

  5. O cara faz esforço pra odiar Gotham. Gasta mais e mais palavras mas nada soa convincente. Soa como birra mesmo. Tipo, todo mundo gosta eu vou falar mal só pra me destacar. Claro que não gostar é um direito de cada um, mas do jeito que se expressa fica bem infantil.

  6. Mais onde está a critica do Episodio 8 no texto???? só li um desabafo de alguém frustrado que odeia Gotham……E o jeito que Hollywood funciona……

  7. Crítica perfeita!
    Série decepcionante, principalmente em enredo e atuações.

  8. André, acho que chegou a hora de você parar de ver Gotham. Desapegue. Se a série não te convenceu até agora, não vai mais. Abraço.

  9. Eu vou morrer e não vou entender o tanto de elogios que a série recebe, é totalmente moldada pra fanboy de quadrinhos que vão mostrar com os pais do Robin se conheceram, pelo amor HUASHUASUH aí junta uma fotografia totalmente forçada, repleta de atuações overacting (Fish Mooney é de dar pena de tão ridículo) e jogar na cara a cada episódio um ALÔ DAQUI UNS ANOS O BATMAN VAI CRESCER E COLOCAR ORDEM NA PORRA TODA

  10. Tecnicamente essa crítica não é sem noção, tem fundamentos bem concordáveis, a série está melhorando, mas continua com os mesmos defeitos (Se é que em vez de me criticar tente entender a crítica).

  11. A série é para os fãs sim. Se você só assiste ela como crítico, claro que não vai gostar. Os elementos do universo é que fazem toda diferença. Sua crítica é ridícula.

  12. quando você via uma criança assistindo ursinhos carinhosos, você simplesmente chegava e dizia “nossa que lixo sem criatividade personagens idênticos que apenas mudam de cor” acho que não, por mais que a produção não seja de primeira com cenas mirabolantes só o fato de explorar o inicio de personagens já consagrados vale o ponto.

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