quarta-feira, abril 17 2024

TheAffairDestaque

[contém spoilers] Posso estar divagando, mas quando penso no ritmo das histórias que The Affair nos apresenta, reflito que é exatamente como o mar. Muitas vezes calmo, apenas marolas indo e voltando, e outras tantas são ondas enormes e revoltadas, com um repuxo tão forte que você não conseguiria voltar para a beira. A metade final dessa maravilhosa primeira temporada foi intensa e cheia de reviravoltas como o mar.

O caso de Noah e Alison deixa de ser um segredo e acaba – principalmente pela descoberta da vida ilegal que Alison leva e como isso deixou Noah desesperado, acreditando que cometeu o maior erro de sua vida. Inclusive, antes de chegar onde realmente quero, preciso dizer: é incrível como um detalhe que estava oculto pode mudar tudo o que uma pessoa sente e pensa. Noah se afasta mais rápido de Alison do que a onda quando volta pro oceano (sim, eu amei essa metáfora).

Continuando… Cole e Helen já estão de olhos abertos e cientes da traição – incrivelmente nenhum dos dois abandona o seu par. O que me fez cada vez mais prestar atenção nas personagens que estão em volta dos protagonistas, e colocar os mesmos de lado. Ora, no início da temporada eu tinha uma visão muito turva de Cole. Para mim, ele era um homem com instinto primitivo. Um homem que jamais aceitaria que a sua mulher, a mãe do seu falecido e amado filho, estivesse rolando na cama com o corpo de outro homem. Mas ele aceita. Talvez por sentir que foi muito duro com Alison por muito tempo, talvez por entender a tormenta que passa na cabeça dela por jamais ter saído do luto eterno que deve ser perder um filho. Ele sofre com a traição, se mostra magoado – e não revoltado.

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Já Helen reagiu da maneira que eu esperava, levou o caso para a terapia na tentativa de tapar o sol com a peneira. Helen gosta de ser superior à Noah, e o deslize do marido apenas faz sua crista crescer. Mais revolta, mais regras, mais imposições. Aquele olhar que não para de julgar por um santo minuto. Algo como “você não vai me alcançar o refrigerante? Você me traiu, e não vai alcançar o refrigerante?”. Eu sei, exemplo ridículo, mas a mais pura verdade quando alguém joga com “quem errou mais”.

Deixando de lado um pouco os cônjuges e voltando aos amantes, com a volta de Noah para a cidade, o afastamento de ambos se mantém até o mesmo precisar retornar a pacata Montauk. Ele afirma para Helen que não vai procurar por Alison. Risos. Ok, de fato, ele não procura, mas era óbvio que eles iriam se cruzar, não é? E mais óbvio ainda é que, uma relação que sempre foi movida por tesão, por faíscas no olhar, jamais se apagaria simples assim. Eles se reencontram e Alison está passando por uma barra familiar. Boom. Tudo volta e aquele desespero que Noah sentiu um tempo atrás simplesmente desaparece. Como reiniciar um affair é fácil, e as promessas ficam jogadas ao vento…

A série continua mantendo as diferenças (as vezes pequenas, as vezes gritantes), entre as versões e eu preciso admitir que jamais vou me cansar dessa artimanha. Como é interessante ficar tentando encaixar na minha cabeça o que pode ser verdadeiro para fazer sentido na história completa. No penúltimo episódio, outra manobra interessante: as versões dos dois se alcançam. A de Alison termina na estação de trem, deixando Cole (e o mesmo pronto para ir junto), e a versão de Noah encerra com o mesmo chegando nessa mesma estação de trem, sorriso no rosto, malas na mão, preparado para viver com sua amante após ter largado Helen. Mas eles seguem caminhos separados.

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Quatro meses se passam. Noah está vivendo intensamente a vida de solteiro. Transando com qualquer mulher que aparecer, perguntando o nome da pessoa enquanto já está dentro dela. Ah, os homens. Sua postura é tão irresponsável, que ele acaba sendo suspenso do trabalho e precisa ficar meses em uma sala com outros na mesma situação. Mas Noah faz uma situação ruim ser produtiva e termina de escrever seu livro (eu queria que esse livro fosse publicado na vida real, eu compraria). Alison resolve fazer um retiro espiritual com a sua mãe, tentando fugir de tudo e de todos. Ela entende e aceita que sua relação com Cole não tem mais salvação, é muito dolorido viver com a constante lembrança da perda do filho. Vê-los tentando lidar com a falta um do outro e a relação com seus pares é sensacional, são tão diferentes. Quando Noah é questionado se sente falta da esposa, é em Alison que ele pensa. Porém, por ser fraco e apegado ao passado, ele retorna para os braços de Helen, que não consegue viver sem ele – enquanto Alison é bem mais firme em sua decisão de ficar sozinha.

Mas tudo isso é história, é diz que me disse. Os poucos fatos que temos são outros, nada relacionados a paixão, e sim a assassinato. Quem matou Scotty Lockhart? Por que? Tudo nos leva a crer que foi Noah. Afinal, sua filha adolescente engravidou (e abortou) de Scotty. Que pai não ficaria louco por ver a sua filha passando por uma situação dessas com apenas 17 anos? Um homem de 30 tirou vantagem de sua inexperiência. Noah ameaça Scotty (e câmeras filmam ele agredindo e prometendo: eu vou te matar). Mas o pior não é isso, é Noah subornando o mecânico de seu carro para que ele não admita nada para o Detetive. Oh. My. God. Ele seria mesmo capaz de matar?

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E a temporada finaliza de uma maneira que explodiu minha cabeça. Noah e Alison estão vivendo juntos, eles tiveram uma filha, gente. Eu admito que esse cenário nunca passou na minha cabeça, não imaginei que fora daquela sala de interrogatório que acompanhávamos no futuro, ambos vivessem juntos. Mas vivem, e ele é preso pela morte de Scotty, porém eu realmente não acredito que ele é culpado. Só em 2015 iremos descobrir, amigos.

5star

Destaques:

– Detetive Jeffries (Victor Williams): o investigador tem um tom sério e irônico de tirar o chapéu. Em suas pequenas participações, ele sempre rouba a cena. Principalmente no último episódio. Que ele tenha mais espaço na segunda temporada.

– Alison (Ruth Wilson): a atriz está impecável. É a personagem que mais passa por alterações de personalidade em cada versão da história. Ela é tão sútil nessas transições.

– Cole (Joshua Jackson): WOW. A cena de Cole quase atirando em Noah, Helen e Whitney. Depois mirando em Alison e, por último, em sua própria cabeça. Arrepiei.

– As cenas de sexo. Todas. Entre Alison e Cole. Alison e Noah. Noah e Helen. Noah e todas as outras sem nome. Alison e Oscar (urgh). Cenas de ótimo gosto e nunca exageradas.

– A estrutura narrativa. Os fragmentos da memória de cada um. Como eles se enxergam. E, principalmente, como essa estrutura se reinventa ao longo da temporada. O season finale foi marcado por momentos curiosos: Alison se lembra de uma situação com Noah que, inclusive, comentei na crítica passada. Mas essa situação fazia parte do conto de Noah, não dela. Interessante observar que, indiferente de uma determinada situação ter acontecido apenas na versão de um, não significa que não tenha acontecido. Confuso, mas sensacional. Adoro como The Affair não duvida da inteligência do espectador e faz com que o mesmo fique sempre atento a esses detalhes.

14 comments

  1. Review espetacular! Parabéns, Bruna! The Affair foi junto a The Leftovers a melhor série do ano na minha opinião, que série incrível, sutil, inteligente e sedutora!

  2. Parabéns pelas reviews ao longo da temporada! Curti demais a série, e esse sentindo final foi sensacional! Que venha a 2 temporada!

  3. Ótima review! Não esperava muito da série e fui surpreendido!

  4. Assisti por causa da sua crítica. gostei muito da série, fiquei chateado porque ela não acabava de vez, dá sempre aquele medo de estragarem, de não darem conta de continuar com o ritmo. Mas vamos ver né? Ah! Eu fiquei agoniado com as cenas de traição em público, e a reação deles quando descobriram me surpreendeu. Bom, valeu pela dica e pelo texto bacana :-)

  5. Amei, parabéns! Também reparei no fato de que a Alison descreve pra amiga Phoebe algo que só aconteceu na versão do Noah, quanto ao detetive, acho estranho o fato dele também ter duas versões pra tudo, falou para o Noah que tinha filhos gêmeos, depois que eram filhas, para Alison falou que era casado e até descreveu como conheceu a esposa, depois recebeu a ligação de um tal Steve, a quem ele trata por “querido”, bom, é no mínimo pra confundir mais ainda as nossas mentes. Quanto a garotinha, de nome Julianne, acredito não ser filha do Noah e da Alison, pq a Alison pergunta para o Noah se ele estará lá qdo a menina for embora, embora pra onde? perguntas e mais perguntas. Meus personagens preferidos são o Noah e o Max (que dá um toque de humor e leveza na série). As vezes acho que tudo isso só existe na cabeça do Noah, que só a família dele existe de verdade, o resto, é somente personagens de um livro dele, hahaha, já tô pirando nas teorias. O pior é esperar até outubro/novembro para uma 2ª temporada, haja paciência, obrigada pelo espaço, bjs.

  6. Pra mim a versão do Noah é a real, a da Alison tem coisas que não batem, logo no primeiro episódio, na versão dela, o Noah oferece um cigarro e ela diz que não fuma, porém, agora ela tá sempre fumando, ela fala pro detetive que ela tem que buscar “my kid” (meu filho?) sei lá, ela tem cara de suspeita pra mim! kkkkkk

  7. Eu demorei para me render a série!!!
    Mas quando comecei assisti tudo num final de semana só!!! Intrigante e te prende a cada minuto!!! =)

  8. musa dos reviews, otimo review, como sempre! A série foi sensacional, que venha a segunda temporada!

  9. Bom, não é certo que eles tenham uma filha né… a serie brinca o tempo inteiro com isso, faz a gente pensar em uma coisa, e é outra.. =P

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