sexta-feira, abril 19 2024

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[com spoilers do episódio 4×12] Se Krieg Nicht Lieb, o episódio anterior, tinha sido uma pedra no sapato de uma temporada até então impecável, este Long Time Coming é um deslizamento de terra: embebido em soluções novelescas, tramas súbitas, desfechos previsíveis e transmitindo a emoção de uma tábua de churrasco, este season finale foge de tudo que a temporada vinha acertando (e acertando muito) até aqui. Lembram daquele episódio de The Simpsons onde um chef novato serve para o Homer todas as partes venenosas do peixe e deixa de fora o único pedaço bom? É mais ou menos isso.

Porque Long Time Coming ignora completamente os últimos onze episódios e decide que vai investir em temas que sequer foram arranhados na temporada. Assim, temos Carrie sentindo a ausência do pai (cuja existência sequer havia sido reconhecida até o final de Krieg Nicht Lieb), aproveitando o tempo com a filha (é verdade, ela tem uma filha!), confrontando uma mãe que simplesmente se materializou no meio do drama, emulando Malhação com Peter Quinn e por aí vai. São elementos vazios, atirados na trama de forma convencional na esperança de que o espectador aceite eles como parte da história por já reconhecer esse tipo de situação, de que ele compreenda as motivações e decisões ligados às cenas por já ter visto milhares de vezes antes em outros lugares.

Assim, temos a mãe que abandonou as filhas porque não conseguia encarar a família após suas ações (ter pulado a cerca praticado parkour na cerca), a garota problemática que diz que vai estragar tudo, o estranho simpático que aparece para dizer coisas que fazem a personagem se sentir melhor e vai embora… é uma sequência daquelas soluções que, se estivessem em produções audiovisuais brasileiras, as pessoas veriam e diriam “só em novela mesmo”. Long Time Coming simplesmente vai jogando as peças para o ar sem dar a mínima se elas vão cair no lugar certo ou não. Há até o momento em que, logo após dizer que prefere ficar sozinha, a garota tenta ir atrás do garoto – que está incomunicável porque ele quer ficar sozinho depois que descobriu que ela quer ficar sozinha (e, claro, ela quer ficar sozinha por um motivo altruísta, aquele lance de “não sou uma coisa boa para você agora”), tipo de situação demente que já seria uma decisão questionável em uma série adolescente, que dirá em um drama de espionagem.

O pior é que o season finale que esta quarta temporada merecia está ali: na relação da CIA com Haqqani, em tornar a agência um ambiente muito mais complexo e moralmente dúbio do que imaginávamos ao mesmo tempo em que provoca o espectador negando a tão esperada “vingança” contra o terrorista. Mas em Long Time Coming esta é uma trama raquitica, que morre de fome enquanto Carrie se esbalda em um buffet de coisas a resolver – e, mesmo quando entra em cena, se desenvolve (risos) através de situações e motivações muito vagas. É tipo “a gente fez um acordo com o Haqqani, ele vai para umas cidades aí, o primeiro-ministro também matou gente, ó o vídeo, partiu CIA de novo?”. Qual é exatamente o benefício prático disso? O que a CIA ganha? O que Haqqani, que discutiu e muito com Saul sobre seu ódio aos EUA, ganha? Homeland não trabalha nisso. Parece que toda a confusão no Paquistão já é parte do passado e ninguém precisa lidar com mais nada relacionado àquilo.

No final das contas, Long Time Coming se mostra um amontoado de erros que alimenta uma decepção do tamanho de um bonde. Após uma temporada tão bem construída, Homeland finaliza as coisas de forma apressada, deixando de lado o desfecho da jornada pelo Paquistão para inserir um monte de novos dramas e fazer Carrie balançar novamente – parando para pensar, temos: a ausência do pai; a ausência de Quinn; a presença da filha; o confronto com a mãe; a “traição” de Saul; a indecisão sobre a CIA. São nada menos do que seis elementos que apareceram e ganharam força suficiente para serem determinantes em apenas um episódio, muita coisa para muito pouco tempo. E o resultado é que, ao contrário da temporada passada, que começou na lama do fracasso e cresceu para se tornar épica no final, Long Time Coming pegou uma temporada que vinha de forma avassaladora e puxou o freio de mão. Só porque a protagonista é bipolar não significa que a série também precise ser.

1star

8 comments

  1. “Só porque a protagonista é bipolar não significa que a série também precise ser.”

    Definiu bem!

  2. A gente tenta dar uma chance para Homeland, mas a série definitivamente não ajuda. Você chega a se questionar se sao as mesmas pessoas que produziram a temporada e o último episódio, uma piada de extremo mau gosto. Já assisti quase 30 seriados e esse foi, sem dúvida, o pior season finale que ja vi…

  3. Achei excelente a definição, só faltou ressaltar que ela achava que ” não era coisa boa pra vc” pq o pai que também era bipolar disse a vida toda para as filhas que a mãe havia ido embora por que é impossível se relacionar com um bipolar, o que fez com que ela sempre achasse que não seria boa o bastante para ninguém, e quando descobre o motivo real da partida da mãe, percebe que sim pode ter uma chance de ser feliz ao lado de alguém, e vai atrás do Quinn, tudo bem que isso foi bastante bizarro e não justifica em nada o caminho tomado pela equipe produtora más achei relevante citar.

  4. Eu não achei o episódio ruim, acho que nos acostumamos nessa season com episódios excelentes e por isso quando vimos um normal, e que na minha opinião é um bom ‘preparador de terreno’ para a nova temporada, achamos que foi pouco. Acho que a 5ª temporada será excelente. Acredito muito em Homeland, e a atuação da Claire Danes pra mim sempre é memorável!

  5. Alguém sabe explicar que documentos da Carrie eram aqueles entregues ao Quinn e que antes de partir com seu grupo “BlackOps” ele entrega ao tal “novato”? Não entendi isso, por um instante entendi que a missão naqueles documentos seria de matar a Carrie. Até porque ela sabe demais dos planos da CIA.

  6. Não eram documentos, eram cartas para os familiares caso algum deles morresse em combate.

  7. Prefiro acreditar que a série terminou na 3a temporada. Até porque sem o Brody fica meio sem sentido…

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