quinta-feira, abril 25 2024

true detective 2x05

[com spoilers do episódio 2×05] Como muitas coisas na vida, tudo que True Detective precisava para entrar nos eixos de vez era de um bom tiroteio: após Down Will Come testar a paciência do público ao longo de cinquenta minutos e depois implodir tudo com saraivadas ensandecidas de bala, Other Lives chega como quem não quer nada e conquista o seu lugar ao sol fazendo a trama andar, investindo nas personagens, diálogos e justificando a atmosfera noir.

Certo, a descoberta envolvendo os abutres, embora ainda dentro do âmbito investigativo, soou um pouco apressada e trôpega, isso é fato. Mas o próprio resultado dela foi benéfico, abrindo as portas para novos elementos misteriosos que deram mais gás para a trama do crime, que até aqui era meio que um sujeito sem olhos e uma quantidade descomunal de informações pronunciadas de lá para cá. O que Other Lives fez foi criar algo consistente; a sequência na cabana é marcante o suficiente para se tornar a referência do mistério, e é construída dessa forma (o fato de se deslocarem até ali dá o ar de importância; a presença dos abutres confere um ar quase predestinado; e o conteúdo da cabana se mostra suficientemente assustador – tipo, sangue na parede e a conclusão que foi uma artéria. Sinistro).

Na real, este quinto episódio é muito mais encorpado. Pela primeira vez na temporada, a série mantém o espectador “investigando” junto – quando Woodrugh vai investigar as joias, por exemplo, e o joalheiro fala que um policial já passou por ali e pensamos “Dixon, seu maldito gordo bêbado e cadavérico”, é porque estamos a par do que está rolando e conseguimos pensar em cima dos acontecimentos. Other Lives é mais fluido e bem distribuído, com cenas de pancadaria, revelações e desenvolvimento das personagens se alternando com uma lindeza que a temporada não havia apresentado até aqui. Para completar, os diálogos finalmente acertam o tom, encadeando sequências de vitória como se não houvesse amanhã (“posso ajudar você, Cisco Kid?“, “a dor é inesgotável. As pessoas é que se esgotam“, “o crime existe conforme o desejo humano“, toda a reunião de Bezzerides).

true detective 2x05b

O mais incrível é que, mesmo dando mais sustância à trama propriamente dita, o episódio consegue ao mesmo se aprofundar bastante nas suas personagens. É interessante ver como a série apresenta Velcoro, Bezzerides e Woodraugh pós-tiroteio em diferentes reuniões onde estão deslocados (e acaba sendo algo relacionado a sexo) e investe em pequenos detalhes para ilustrar a mudança deles (Bezzerides volta a fumar, Velcoro extingue o bigode, Woodraugh trabalha fechado em um escritório e até mesmo Frank muda de casa e volta a ser dono de boate). Enquanto a investigação avança, vamos descobrindo mais sobre as personagens – seja em termos de informações (a esposa de Frank, o estuprador da ex-esposa de Velcoro) ou de características mais complexas (Bezzerides condenou a irmã por se expor em webcams, mas não hesita em pedir que ela volte ao jogo pelo bem da investigação). Toda a atmosfera noir e de sofrimento que acompanhava as personagens aqui é justificada – não pelo que elas disseram que aconteceu, mas pelo que presenciamos acontecer e por testemunhar o quanto isso mudou cada uma delas. São pessoas diferentes agora, mais soltas, menos contidas por detalhes externos que as obrigavam a anar mais na linha.

Há que se destacar a atuação de Colin Farrell, que já vinha muito bem mas que, em Other Lives, mata um primeiro plano difícil no peito sem sequer suar (a cena em que descobre sobre o estuprador), e Rachel McAdams, que consegue fazer a cena na praia parecer desconfortável ao manter os braços cruzados e uma posição distante da irmã (e um ótimo trabalho de figurino: cobrir o corpo da moça, mesmo em um lugar de corpos descobertos, mostra o quanto ela quer se diferenciar daquela imagem). Também é interessante notar que os planos aéreos de rodovias que emulam equações não-lineares sumiram; o que se vê agora são estradas mais limpas, diretas, sem as curvas que parecem sair e levar a lugar nenhum. Talvez isso seja simbólico da própria temporada: a partir de agora, saem as complicações, o excesso de cruzamentos e elementos envolvidos no tema principal e começa uma jornada onde a descoberta do assassino é tão importante quanto o que as personagens vão descobrir sobre si mesmas – e já começa com um cliffhanger poderoso.

Pela primeira vez nesta segunda temporada, True Detective fez jus à primeira.

5star

14 comments

  1. A única coisa realmente boa nesta temporada é a abertura. Consegue ser tão espetacular (talvez mais) que na primera temporada.

  2. Ótimas atuações e tudo mais, mas não acho que fez jus à primeira.
    Nada demais…

  3. Eu não consegui sentir a mesma coisa que você assistindo o episódio. Continua bem morno pra mim. Mas também acho que comparar com a 1ª temporada é pecado, pois nunca que a 2ª conseguiria superar.

  4. Acredito q este foi um dos melhores da temporada. Só a revelação a um dos personagens principais de que ele jogou a vida dele no lixo por nada já valeu o episódio.

  5. To até agora tentando entender o que diabos o Frank quis dizer com “blue balls in your heart”…

  6. Evidentemente a 1ª temporada é muito boa… Mas esta também tem me agradado e Colin Farrell está muito bem mesmo… parabéns pelo texto!

  7. As aberturas da HBO, em geral, são sensacionais! Normalmente eu pulo logo as aberturas, mas no caso da HBO, simplesmente NÃO DÁ! Elas são hipnotizantes!

  8. Está melhorando, mas ainda não chegou nem perto do nível da primeira temporada.

  9. Boa critica! Focada na serie e no episodio. Diferente de outra critica ai. Aka Series Maniacos!

  10. Achei que só eu tivesse reparado! Tenho a impressão que a letra da música de abertura muda em cada episódio.

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