quinta-feira, abril 11 2024

leftovers 2x05

[com spoilers do episódio 2×05] Em determinado momento de No Room at the Inn, o reverendo Matt Jamison entrega dinheiro a um sujeito para saber qual é o caminho secreto para entrar em Jarden. Quando a elipse ocorre e vemos eles na frente de um tradicional cano usado como entrada secreta (cuja função secundária é escoar água), o sol, o dia e o calor pré-elipse dão lugar a uma chuva monstruosa e ao breu da noite, mesmo que pouco tempo tenha se passado. E isso é emblemático deste quinto episódio da segunda temporada de The Leftovers, que, como se a narrativa audiovisual fosse um grande jogo de queimada, se limita a atirar bolas na direção de Matt para ele tentar desviar.

Há bons momentos, é claro, principalmente visão maior que No Room at the Inn oferece sobre a população acampada na entrada/saída de Miracle – a diversidade e a peculiaridade daquelas pessoas, que incluem bater em alguém com um remo e ficar preso em um móvel de centro da época da idade média, mostra como o evento de 14 de outubro virou tudo de cabeça para baixo. Além disso, sequências pontuais como a introdução (onde Matt tenta reviver o dia em que Mary acordou), a do remo e até mesmo o final são incrivelmente bem construídas, utilizando a trilha com muita vitória para criar uma atmosfera intensa e/ou cativante.

O problema é que o resto do episódio descamba tanto para o infortúnio do reverendo que fui conferir se não tinha sido dirigido pelo Alejandro Iñarritu. Cada vez que Matt pula por cima de uma dificuldade surge outra, e outra, e depois outra, e se eu tivesse o talento faria um vídeo emulando algum jogo do Mario onde Matt é o protagonista e tem que ir passando de fase. A primeira desgraça já é um atropelamento da supensão da descrença (tipo, minutos após receber uma grande notícia ele já leva uma chave inglesa na cabeça. E sério que só roubar as pulseirinhas já é o suficiente para causar toda essa confusão? Não há nenhum outro registro de quem vive em Jarden?), mas, conforme o azar vai se acumulando, a falta de imaginação vai mostrando o rosto e fica difícil aceitar as escolhas do roteiro – a situação envolvendo John é o pináculo da preguiça: o papel com a gravidez simplesmente caiu por acaso, John adivinhou toda a história de primeira e o bondoso Matt confrontou alguém tentando lhe fazer um favor, tipo de artifício tão batido que quando a coisa começa já sabemos como vai terminar.

Isso tudo dilui bastante a força da história. Sim, Matt despeja carisma a todo momento e é muito fácil se identificar com ele (Christopher Eccleston, aliás, mostra mais uma vez que manja do riscado ao tornar o reverendo uma pessoa espontânea, ingênua e cheia de vida), só que a forma com que os obstáculos vão simplesmente pipocando de qualquer jeito no caminho dele exila o espectador da trama – mais de uma vez me peguei pensando “sério, de novo?” frente a algum infortúnio da personagem. Assim, o sofrimento do reverendo passa a ser algo casual, quase esperado, e o envolvimento no arco dramático percorrido por ele passa a ser quase zero. No sensacional Two Boats and a Helicopter, da primeira temporada, Matt também passa por diversos percalços, mas lá as situações surgem de forma orgânica na trama. Em No Room at the Inn, o objetivo parece ser simplesmente o de colocar Matt debaixo da chuva sempre que possível – mesmo que o tempo esteja limpo e o sol brilhando.

3star

11 comments

  1. O site bem que podia dar mais atenção a outras séries da mesma forma que dá a The Leftlovers. Gostava de entrar aqui e ler críticas sobre os episódios de determinada série toda semana, mas agora me parece que vocês só fazem a crítica da season premiere/season finale e nada mais.

  2. A impressão que tive da sua crítica é que você se prendeu na superfície da narrativa. Viu o episódio (que eu considerei um dos melhores) como se fosse um seriado de aventura. A chave do entendimento está no momento em que Matt vai pedir dinheiro e a dona pergunta sobre o livro favorita da Bíblia. E ele responde: “Jó”. Matt é Jó, não nega a fé, e ao final ainda se enmtrega ao martírio voluntário. Leftlovers é uma profunda reflexão sobre culpa e castigo.

  3. Péssima crítica de um dos melhores episódios da série. Tragam o Bruno de volta, por favor.

  4. tá certo que deve ter um equilíbrio, mas The Leftovers não é Game of Thrones, pouca gente fala dela, e agora que ela tá competindo horário com The Walking Dead no Brasil deveriam dá uma atenção para essa série, claro que também devem oferecer conteúdo referente a outras séries, entretanto The Leftover está longe de ter a mesma atenção que outras séries possuem.

  5. ter episódios melhores não significa que este é mais ou menos, eu gostei vale pelo menos umas 4 estrelas.

  6. O episódio realmente emula a história de Jó, que teve uma desgraça após a outra, e no fim se entregou ao martírio… Achei bom, mas não incrível… Fiquei mais pensando na pobre mulher do que qualquer coisa…

    E cade os reviews a outras series hein?

  7. Perfeito mesmo sua análise. Um dos melhores episódios.
    Só uma dúvida que ficou no ar. Como é que aquele senhor sabia da gravidez de Mary quando faz um comentário dizendo algo do tipo “ele vai morrer..”

  8. E ai, depois do fim da série, veredito em, perdeu o tempo ou não?

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