quarta-feira, abril 24 2024

Um dos (vários) problemas que eu tinha com Game of Thrones residia em sua trama complexa e superpopulada de personagens e referências que confundia quem não era iniciado nas Crônicas de Gelo e Fogo de George R.R. Martin. Em A Casa do Dragão, série derivada que foca na história da Casa Targaryen 172 anos antes do nascimento de Daenerys, contudo, a sensação é de que estamos de volta a Westeros, mas num “modo” muito mais conciso e sem uma infinidade de histórias paralelas (muitas que não davam em lugar algum na original), teorias absurdas que não se realizam e um excesso de name-dropping (quando a série cita nomes apenas para fazer fan service), e isso é muito, muito bom!

Tendo assistido aos seis primeiros episódios a convite da HBO Max, posso dizer que estou bem satisfeito com a eficiência com que a adaptação de Fogo e Sangue (também de Martin) foi feita pelos seus realizadores. Primeiramente é bom deixar claro que, sim, é preciso ter assistido pelo menos algumas temporadas de Game of Thrones para poder se situar bem neste spin-off, embora seja uma prequência. Vários elementos da série original estão lá e muitos deles precisam ser de conhecimento prévio do espectador para que funcionem ou até mesmo para que entendamos o impacto dramático de certos eventos.

No centro da narrativa de A Casa do Dragão está uma disputa familiar que antecede a inevitável morte do Rei Viserys (Paddy Considine), um pacífico gestor que precisa decidir quem será o seu sucessor ao Trono de Ferro e responsável por manter a paz no reino: sua única filha Rhaenyra (Milly Alcock na primeira fase) ou seu complicado e bélico irmão Daemon (Matt Smith, estupendo), já que o regente não gerou um filho do sexo masculino antes de sua esposa falecer (em circunstâncias bastante duras, há que se dizer). Tal costume da monarquia, inclusive, abre brechas para discussões políticas e sociais sobre igualdade de gêneros que até hoje vemos em pauta.

Mas quando o agora doente regente resolve se casar com Alicent Hightower (Emily Carey na primeira fase), filha de Otto Hightower (Rhys Ifans) – que também é a Mão do Rei -, e seu irmão Daemon decide se exilar após ser preterido pela sobrinha, o nascimento de seu primeiro filho Aegon (Tom Glynn-Carney) dá início a uma sequência estarrecedora de traições, alianças e articulações entre o clã Targaryen e as Casas aliadas da Coroa.

A Casa do Dragão é, ainda, tecnicamente irrepreensível em todos os aspectos: da recriação de Porto Real e pontos importantes no mapa de Westeros até o visual elaborado dos “novos” e ágeis dragões, que dão um show à parte na série, notadamente graças a uma nova e inventiva forma de mostrá-los em ação utilizando “câmeras” subjetivas em perspectivas inéditas na franquia.

Mais do que isso, a série criada por Ryan J. Condal (de Colony) não perde tempo de tela com assuntos que não trazem uma correlação direta e necessária para o desenrolar de sua trama (inclusive com passagens temporais de anos entre os episódios), emulando em muitos aspectos o desenvolvimento e a aura imediatista de Succession, também da HBO, constantemente imprimindo um tom de urgência e sobriedade em praticamente todos os seus capítulos.

Eu apenas não gostei da “troca” de alguns atores que é desnecessariamente feita para emular a passagem de tempo, em especial com os avanços em maquiagem prática e digital que temos hoje.

Enorme em escala (ainda mais considerando estar tratando de um dos vários núcleos da série original) e repleta de reviravoltas de tirar o fôlego, A Casa do Dragão não apenas chega para compensar as criticadas temporadas finais de Game of Thrones, como também para ampliar ainda mais este universo que certamente renderá bons momentos para os fãs e muitos frutos para a HBO nos próximos anos.