quinta-feira, março 28 2024

Depois de ter soltado a notícia do cancelamento da série que produz, Sophia Amoruso apagou as mensagens em seu Instagram apenas uma hora após a postagem. Até ontem a Netflix não havia se manifestado se Girlboss estava mesmo cancelada, mas a gigante do streaming confirmou: o plugue foi mesmo puxado.

A série, então, se despede apenas com uma temporada. Essa é a primeira produção da Netflix que se encerra tão cedo e segue a promessa de Reed Hastings de que “veremos muito mais coisa sendo cancelada” nos próximos meses. Recentemente a empresa apurou resultados financeiros abaixo da média ao final do 1º trimestre de 2017, mesmo tendo atingido a marca de 100 milhões de usuários no mundo. Além disso, eles contraíram empréstimos bilionários para financiar a desenfreada e multibilionária aquisição de todo tipo de conteúdo no mundo, de forma a abastecer sua plataforma com produtos com o selo Original.

Mas essa estratégia começa a se mostrar truncada.

Após o cancelamento de Sense8The Get Down Marco Polo, ficou evidente que existe alguma coisa errada aí. Girlboss nunca foi unanimidade entre crítica e público e a série é de fato bem ruinzinha. Mas a Netflix sabia (ou deveria saber) que seria assim. Desde antes ser exibida, a showrunner Kay Cannon disse no painel da Netflix em Nova York que a comédia seria sobre uma personagem principal “complicada”. Na verdade, sua protagonista não gera empatia com o público, premissa básica para que uma produção com “anti-heróis” funcione (vide Breaking BadThe Americans30 Rock e tantas outras).

Foi naquele mesmo evento em fevereiro que a empresa celebrou o fato de que apenas em sua plataforma encontramos produções tão únicas como The OA, Santa Clarita DietOrange is the New Black, Cara Gente Branca e as próprias The Get DownSense8Girlboss que viriam a ser canceladas meses dali. Na minha frente Kay Cannon, Paul Rust, Jamie Clayton, Britt Marling e outras personalidades comemoravam que a Netflix dava voz à produções “peculiares”. Será que eles não testam essas séries como os outros canais e estúdios de cinema fazem pra tentar melhorar o que não funciona antes de colocar no ar? Deveriam.

Atreva-se a ser diferente

Mas nos últimos 2 anos a Netflix assinou cheques e saiu comprando de tudo. Desde coisas como Haters Back Off (renovada, diga-se) a obras-primas como The Crown. Também comprou séries pequenas e provavelmente baratas como FlakedLoveEasy e a própria Girlboss.

Veja abaixo um trecho do painel que escrevi em fevereiro:

“(…) O apresentador Bill Nye e Todd Yellin, VP de Produtos da empresa, ponderaram que não existe isso de ‘TV demais’ e que a Netflix não está no ramo de fazer uma programação linear que agrade uma maioria. Pelo contrário, ela quer fazer programas, séries e filmes diferentes entre si e que – juntos – conseguem atingir um número maior de pessoas com os mais variados gostos.”

Você pode ver o vídeo do painel na íntegra aqui. Mas outro dia mesmo Ted Sarandos veio a público dizer que não dá pra gastar mais com séries que pouca gente assiste. O que mudou, então?

Nesse mesmo evento, os realizadores celebraram a “liberdade” que a Netflix dá (veja o vídeo também). Mas talvez Lana Wachowski, Baz Luhrman, Kay Cannon, John Fusco e os irmãos Weinstein precisam de certo controle para dar um resultado melhor. Esse pode ter sido o maior erro até agora: confiar demais naqueles que estão gastando seu dinheiro.

Será que então existe, sim, isso de TV demais? Do contrário não veríamos quatro cancelamentos substanciais em tão pouco tempo, vindo de um veículo que até outro dia tinha como lema ser o “diferente”, “atrevido” e “arrojado”. Se bem que investir em 8 filmes de Adam Sandler não é nada arrojado, já diria a própria Sony. O cara traz dinheiro e agrada maiorias.

Mas essas mesmas “minorias diversas” que a empresa queria agradar pode virar uma maioria desconfiada ao investir seu tempo em alguma série nova. Na TV linear é bem comum espectadores esperarem uma série “pegar” pra poder seguir em frente. Toda Fall Season é assim e até por isso temos a seção Semáforo para ajudar os leitores nessa delicada função. Será que devemos já investir de cara em Glow, por exemplo, e consumi-la nas primeiras horas do final de semana após sua estreia? Ou será melhor esperar um pouco mais antes de pular de cabeça no zeitgeist da semana?

É essa estratégia de ‘fogo de palha’ que a Netflix quer estabelecer? Que suas produções o life-span de, no máximo, um feriado pronlongado?

Séries como as já mencionadas Breaking BadThe Americans e até mesmo sucessos absolutos como Game of Thrones conquistaram espectadores com o tempo, permitindo seus realizadores ajustar o que não dava certo e melhorar ano após ano. Mas na Netflix não dá pra prever como todo o público vai receber algo depois que tudo já está pronto e despejado na plataforma para consumo imediato, tal qual um delivery recém-chegado do iFood. Do contrário, corremos o risco da comida estragar logo antes de darmos a primeira mordida.

Não basta assinar o cheque e passar para a próxima, Netflix. Tá na hora de mudar essa estratégia aí…

21 comments

  1. Já comentei que as séries da Netflix rendem muito pouco, enquanto vc tem 10 semanas de Game of Thrones pra assitir, comentar, especular na Netflix se resumo ao único final de semana. Isso é um tiro no pé, tanto investimento pra uma série que o público já vai esquecer na semana seguinte.
    Pior que o público se obrigada a ver a série rápido pq assim que as pessoas vao acabando os spoilers tomam a rede

  2. Quer abraçar o mundo, se tem pouca grana porque tá produzindo séries e depois cancelando, falta de respeito conosco e de comprometimento, tá na hora de alguma empresa grande investir pesado e desbancar essa Netflix. Já passou da hora.

  3. É um negócio bem mais simples: Tentativa e Erro. Pelo menos eles tentam.

  4. Em resumo: a estratégia de “todos episódios já disponíveis” não parece ser tão benéfica nem mesmo no streaming…

  5. Eu nunca curti muito essa ideia de todos episódios de uma vez. Gosto de assistir e degustar uma série com calma, mas com isso, acabo pegando um spoiler aqui e ali… talvez se colocassem os episódios com uma certa distância, pro público ir saboreando e especulando…

  6. Cara .Eu percebi logo isso.
    Sempre achei devia ser ao menos 1 por Dia.

  7. Acho inevitável a Netflix cancelar uma certa porcentagem das suas séries originais. Toda série depende do binômio audiência/qualidade X custo de produção para ser produzida.
    A série impopular pelo menos tem que ter grande qualidade. Deste jeito cria um público cativo, ganha prêmios, publicidade na mídia e tende a conquistar um público mais amplo com o tempo.
    Por exemplo, Breaking Bad (AMC) não começou como um fenômeno. Contudo, aos poucos foi conquistando o seu público por conta da elevada qualidade do programa. Nisso, o sistema de streaming é ainda melhor, pois ajuda a conquistar espectadores atrasados, ao disponibilizar todas as temporadas do programa.
    As séries canceladas não eram tão bem avaliadas pela crítica. As temporadas de estréia ganharam medias do Metacritic de: Marco Polo (48), Girlboss (53) Sense 8 (64) e Get Down (69). Sendo que com exceção de Girlboss, estas séries são muito caras.
    Uma série impopular e medíocre só se justifica se for muito barata. Do contrário, o dinheiro nela investido poderia trazer coisas muito melhores aos usuários.
    O que a Netflix pode fazer é que séries de grande qualidade não dependam tanto da audiência para serem renovadas e com o tempo encontrar o seu público. Agora pensar que programas apenas razoáveis (para a maioria), impopulares e caros sejam continuamente renovados é atentar contra as leis do capitalismo e preterir os usuários do sistema do acesso a programas melhores.

  8. Mas é a verdade. Não existe uma série realmente marcante da Netflix que tenha sido feita recentemente. As mais lembradas são sempre Orange e House of cards. No máximo stranger things que foi feita justamente pra mexer com a nostalgia de cada um (pq seu sucesso se resume a referências, não a uma história realmente boa). O telespectador não cria realmente um vínculo com o que se assiste.

  9. Na boa a Netflix, parece estar desesperada pra produzir tudo q existe e com isso fica enchendo o site de coisas inúteis, pow KD o pessoal de pesquisa e Administração/MKT pra estudar um pouco se aquilo que parece ser interessante aos olhos das pessoas q estão dentro da Netflix trabalhando, se também são interessantes aos consumidores se isso interessa.

  10. Acredito que possa ser relevante também, mas ainda é subjetivo. A forma de consumir conteúdo mudou, e muita gente espera a temporada atual da série acabar pra conferi-lá na integra, principalmente quando é estreante.

    Questão de buzz vai muito do “fator” fenômeno.

  11. Será que mudou? O streaming é um aliado pra você ver séries que não teve a oportunidade de ver na tv e por ter as temporadas completas consegue alcançar a exibição, comigo foi com The Good Wife, GOT e Suits que agora consigo acompanhar semanalmente. Em algum momento a ideia de uma temporada antiga que já passou na tv se confundiu com lançar uma temporada nova toda de uma vez só pra satisfazer a ansiedade do público de ver tudo de uma vez.
    Não veja lógica em lançar temporada de HOC toda de uma vez, como público só gera fadiga de ver negócio por horas seguida e pro mercado o hype se perde em poucos dias

  12. Sendo sincero, hoje, só acompanho as “séries evento”, como GoT e mais recente American Gods e tentei seguir com Riverdale, mas acabei esperando a temporada acabar pra maratonar os últimos 4 episódios. Pra mim, o método de exibição semanal não funciona mais com séries padrões, pois sempre há o risco de ser cancelada no meio da temporada ou até mesmo a questão do acesso ao conteúdo ser “difícil”. Outras que recebem o título original exibidas na netflix no formato tradicional também não geram tanto buzz, como por exemplo Shadowhunters, Designated Survivor ou Better Call Saul.

    Digamos que em comparativo recente 13R fez o mesmo buzz que American Gods no formato tradicional.

  13. Ou então fazer como a Amazon: testar pilotos de séries que podem estrear ou não na temporada seguinte. Com tempo suficiente pra gerar público e crítica, e assim nem a empresa nem os assinantes perdem dinheiro.

  14. Eu mesmo sou assim, espero a temporada inteira acabar, para so entao assistir. Recentemente fiz isso com Fargo e com Better Call Saul, por exemplo. Nao tenho muita paciencia de ficar esperando uma semana inteira por apenas um episodio. Prefiro assistir 2 episodios por dia (é o meu tempo livre diario).

    A unica excecao é Game of Thrones, mas sequer é por minha causa, e sim por causa de minha esposa, que quer assistir no dia que o episodio é liberado na internet. Nao fosse por ela, e ate GoT eu esperaria ter todos os episodios antes de começar a assistir.

  15. Tem uma coisa errada aí… Como uma empresa quer gastar dinheiro para fazer “series para agradar as minorias”, e DEPOIS disso esperar que a serie seja muito assistida, por muita gente?… Nao faz sentido. Se quer que seja assistido por uma “maioria”, tem que fazer series para a maioria, e nao ficar insistindo em agadar apenas as minorias.

  16. Recomendado para você, VEJA C0M H’D4K, VISITE >> CINEMAX-32.BLOGSPOT.IS

  17. Ue… pelo jeito a roda girou pq tudo pelo q a netflix era elogiada agora é criticado. O excesso de séries estreiando é claro mas daí a dizer q as séries precisam de uma plateia antes de ser lançada é um.pouco demais. Foi exatamente isso q matou as novelas da Globo, por exemplo.

  18. Acho que a questão de as séries serem lançadas numa só tacada, gera problemas, as vezes, mais em relação a mercado. Gosto é de cada um, mesmo antes da netflix eu sempre fui maratonista rss

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